segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Um balanço dos meus dias

Ando com urgência para deixar minhas digitais nas coisas. Estou envolvido em vários projetos ao mesmo tempo. Corro de um lado para o outro sem respirar. Minha tia Nelly me diz que eu devo desacelerar. Logo ela, que aos 88 anos está escrevendo dois livros ao mesmo tempo. 

Acho que “meu evento cardíaco” de maio incutiu em mim essa urgência. Vai ter gente dizendo que deveria ser o contrário, que eu deveria parar um pouco. Não acho possível. Manter o coração trabalhando talvez seja a melhor maneira de mantê-lo por muito tempo. 

Entre achismos, provocações e filosofia barata, vou tentando dizer ao mundo como sou, na esperança de que se lembrem de mim por mais tempo do que 15 minutos. 

Ando vendo filmes clássicos, lendo textos do início do século passado, que espalham atualidade na minha rotina. Como foi possível ficar tanto tempo sem ler Walter Benjamin, Baudelaire e Focault?

Estou numa fase de revisitar obras que deixei pra lá na época do lançamento. Por exemplo, o acústico MTV da Cassia Eller. Eu me emociono toda vez que ouço Luz dos Olhos. Numa admiração tardia, devo reconhecer que o Nando Reis é um dos meus compositores preferidos. E entendo perfeitamente os versos de All Star: “o tom que faço minhas musicas pra sua voz parece exato”. Cassia Eller tem o tom exato para Nando Reis e para todo mundo. 

Para alguns quero ser uma boa lembrança. Para os meus, quero deixar uma grande lição: não há grandes lições. As que me servem e serviram não são necessariamente adaptáveis aos que me escutam compartilhá-las. 

Tenho alguns gurus, mas não tenho estofo para me tornar um. Tenho dúvidas inconfessáveis quando vou escrever. Há palavras que tenho que recorrer ao dicionário para grafar corretamente. 

Nessa tentativa de deixar digitais, erramos. Somos dúbios, não queremos ser gurus, mas almejamos um legado. O meu talvez seja: aquele cara às vezes legal, outras tantas mesquinho. De saber pretensioso que se embaralha no uso da crase. Um cara que anda  trôpego pela ponte, mas que para os que estão longe, pretende passar a imagem que flutua. O corajoso mais medroso que desafiou moinhos. Se sonha Quixote, mas tem preguiça de sair da cama.  


“Onde estarás em 10 anos?”, pergunta-me um ansioso. Espero que no coração de quem amo, respondo resignado. 

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