segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Você não sabe quem é Priscila Tossan? Deveria

No fim do século passado (essa é a vantagem de ter mais de 18 anos em 2018, poder dar ares históricos às próprias reminiscências) fiz dança de salão. 

Muito antes do Faustão exibir a Dança dos Famosos, eu já tentava bailar ao som de uma música. O curso básico no Centro de Dança Jayme Arôxa continha lições de bolero, “soltinho” e samba. Como dois estilos são autoexplicativos, vou definir o “soltinho”: nada mais do que o velho e bom twist que você vê os jovens americanos praticando em filmes dos anos 50. 

Dançávamos no Clube Asa, em Botafogo. Curiosamente, um dos dias de Dança coincidia com uma “pelada” jogada por alguns integrantes do Casseta & Planeta. Eu desconfio que sempre que passava pelas aulas, o Bussunda pensava em alguma piada politicamente incorreta. Na verdade, nunca saberemos. 

Nos fins de semana havia os “bailinhos”, onde desfilávamos toda a timidez, falta de ritmo e de perícia. Olhávamos os professores e alunos mais avançados com admiração e inveja, não necessariamente nesta ordem. 

Havia os dançarinos exuberantes, que sabiam todos os passos, não saíam da pista e trocavam de par incessantemente. Um dos que chamavam minha atenção era o Luisinho (mudei o nome de propósito). Era simples, todas as moças com que bailei na época falavam dos dotes hipnóticos do Luisinho ao dançar. Todas diziam “nossa, dançar com o Luisinho é quase como sair do chão”. 

Tentava entender a magia do Luisinho. Ele  era mais baixo do que eu. Não primava pelos cânones do belo, no entanto, causava algo transcendental ao tomar a dama pelas mãos e levá-la ao shagrilá do bailado. 

Intrigado, perguntei a uma das seduzidas pelos “pés de sereio “ de Luisinho o que tanto encantava. Ela me explicou, mas por problemas de cognição meus, tento entender a resposta até hoje: “ele dança a música”. 

Você me dirá que a explicação é óbvia, mas como toda a obviedade guarda uma armadilha, não se entregue fácil. Acho que o que minha encantada interlocutora dizia, era que Luisinho “dançava a melodia das canções e não a marcação rítmica delas. Talvez por não ser musicista, a explicação fique distante para mim. 

Vendo The Voice Brasil, lembrei-me de Luisinho. Tem uma candidata chamada Priscila Tossan que me hipnotizou. Acho que a explicação para tal encanto seja “ela canta a música”. 

No primeiro contato com ela, me assustei, achei a dicção estranha e distante do virtuosismo demonstrado pelos candidatos. Já na quarta frase eu estava chapado, sem entender muito bem o que ela fazia. Sei que gostava. 

Minha implicância com os candidatos do The Voice é que apesar de talentosíssimos, ignoram a escola brasileira de canto. Em vez de performances mais melodiosas, abusam das acrobacias vocais tão em voga na forma de cantar das americanos. 

Priscila Tossan é o avesso disso. O que ela canta é só dela. Faz as coisas de forma tão intuitiva que parece ter ela mesma fundado uma escola de cantar. Ivete Sangalo chegou a defini-la numa onda “meio Simonal”. 

Ouso discordar em parte da jurada mais carismática do The Voice. Talvez o encontro de Priscila com Simonal se dê no planeta originalidade. Ela tem uma onda só dela. 

No país dos sertanejos e aparências, talvez seja difícil que Priscila Tossan ganhe o concurso. Mas uma coisa é certa: ela é de longe a artista mais original a se apresentar nesta edição. Se tivesse acompanhado o programa desde a primeira edição, poderia dizer com mais tranquilidade que ela é a maior revelação do programa. 

Priscila Tossan canta a música dela, num universo dela e para a nossa sorte ela teve a oportunidade de dividir está arte num programa de grande audiência. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário