sábado, 11 de agosto de 2018

Existe um dia ensolarado para quem sabe voar

A realidade dos novos meios de comunicação se impôs de forma avassaladora ultimamente. Os chamados meios tradicionais vão tentando se adaptar como podem, mas não será fácil. 

Neste sentido, duas notícias chamaram minha atenção particularmente nos últimos dias. A primeira foi o  encerramento das atividades dos canais de AM das emissoras do Sistema Globo de Rádio. A outra foi o fechamento de 10 títulos da Editora Abril. 

Os dois fatos estão intrinsecamente  ligados. As novas tecnologias fazem uma espécie de “seleção natural” econômica. Ou as empresas se adaptam à nova realidade ou vão passar aos livros de história assim como os dinossauros. 

O custo de operação de canais de AM do SGR era milionário. E para agravar a crise, a audiência é cada vez menor. Para se ter uma ideia, vou dar números de junho de 2016. As quatro emissoras mais bem colocadas do Rio operavam em FM. Cada uma delas tinha isoladamente mais ouvintes do que todo o conjunto de rádios AM do Rio. 

Por exemplo, a Rádio Tupi tinha cerca 15% de sua audiência em AM. O AM comercialmente é um doente terminal. Um dos grandes problemas é a recepção sofrível nos carros, importantíssima hoje em dia. Operação cara e verbas comerciais à míngua formam a equação para esta agonizante realidade. 

As previsões mais otimistas dizem que a migração para o FM deve chegar ao Rio num prazo de 5 anos, logo, uma operação deficitária por tanto tempo não seria viável. A saída para o rádio não está no dial, está nas plataformas digitais. Qualquer projeto de médio prazo que não encare a solução desta forma está fadada ao fracasso. 

O problema é que o fechamento dos canais de AM significa o fim de veículos que deveriam prestar serviço à população. Se economicamente  é explicável, enquanto política de comunicação é um decisão ruim. Os canais de AM deveriam de alguma forma ser cedidos à entidades que se dispusessem a operar nessas frequências. 

O fechamento dos títulos da Editora Abril é um tiro no pé do jornalismo. Meu amigo Bruno Zolotar matou a charada. Se você não quer que as revistas acabem, leia revistas. A falta de público e de receitas fez com que as revistas acabassem. 

Uma vez ouvi do meu amigo Gilmar Ferreira que em japonês o ideograma que representa crise é o mesmo que representa oportunidade. Logo, quem sai das faculdades de jornalismo tem essa “oportunidade” de montar projetos e propostas para suprir de conteúdo o mercado. 

O momento é paradoxal. Ao mesmo tempo que as grandes empresas de comunicação diminuem as ofertas de trabalho, nunca foi tão necessário o conteúdo, nunca foi tão grande a busca por informação. 

A falta de visão e de ousadia dos empresários jogaram as empresas  nesta fase de “desinvestimentos”. E aqui incluo a decisão da Turner de fechar os canais do Esporte Interativo. As novas gerações vão ter como missão continuar levando informação e prestação de serviço à população. O problema é que terão que inventar novas formas para fazer isso. 


Apesar da neblina que muitas vezes atrapalha a decolagem, ao passar pela espessa nuvem, tem um dia ensolarada lá em cima, mas só para quem quer e sabe voar. 

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