terça-feira, 7 de agosto de 2018

Uma estrada de 30 anos

Acabo de ver o capítulo 44 de Vale Tudo. Havia diálogos muito mais interessantes na novela do que os que ocorrem hoje em dia. Alguns foram mais importantes para falar da situação do país na época do que para a trama da novela especificamente. 

Para facilitar o entendimento do texto me referirei aos atores pelos nomes deles  e não pelos dos personagens. Numa determinada passagem Cláudio Corrêa e Castro conversava com Iris Bruzzi sobre a perda de poder aquisitivo da classe média. Algumas constatações: ele teve que deixar de ser sócio do Fluminense porque não tinha mais dinheiro. Já não conseguia ir ao cinema porque o ingresso do filme estava custando 1 dólar. Isso era há 30 anos. Fui ao cinema no sábado e meu ingresso custava 43 reais, cerca de 11 dólares, ou seja, bem mais caro do que na época da novela. Uma piora, sem dúvida. 

Em outra passagem os personagens de Antônio Fagundes e Cassia Kis conversavam sobre o aumento das mensalidades escolares. Era a época do Governo Sarney, em um ano e três meses as mensalidades aumentaram 10 vezes. De 1.800 passaram a custar 18 mil cruzados. Bem, essa era a triste realidade da hiperinflação, legado das trapalhadas das políticas econômicas implementadas principalmente durante e depois do “milagre brasileiro”. Em determinado momento, Cassia Kis sugeriu colocar o filho, um imberbe Danton Mello, na escola pública. O discurso de Fagundes poderia ser usado hoje. A escola pública caiu de qualidade porque foi sucateada. É, caro amigo leitor, o problema é velho. 

Mas houve outras coisas interessantes. Numa série de tomadas aéreas foram exibidas varias imagens do Rio de Janeiro. A que me deu mais nostalgia foi de uma sequência com o velho Maracanã. Estádio lotado, com a  geral recebendo “torcedores raiz”. 

Assistir Vale Tudo é quase ver um espelho que tem a capacidade de abrir um portal para o passado. Olhei um por-do sol em Ipanema e me lembrei de quantos eu pude assistir exatamente do ângulo mostrado pela câmera. Lembrei do encantamento que foi ouvir Faz Parte do Meu Show pela primeira vez. E reavivei na memória um fato:e Lídia Brondi fazia parte do time de musas da minha adolescência. 

Mas foi legal constatar que ainda tenho contato com muitas pessoas que eu já conhecia na época da novela. Amigos queridos, presentes nos momentos mais alegres e tristes da minha vida nos últimos 30 anos. 

Passados 3 meses do maior susto que minha saúde me deu, lembrei da importância de manter os laços, para atravessar as tempestades. Como é bom poder olhar no retrovisor e ver que muito do que você viveu lá atrás está conservado nos bons amigos e nas velhas histórias que você viveu com eles. 

Escrevo esta parte do texto com 3 meses de atraso, porque quando tinha planejado escrevê-lo, fui parar no hospital. Com alguns quilos a menos e um stent a mais, faço deste post uma homenagem aos amigos que fizeram comigo o antigo segundo grau, atual ensino médio. 

Vale Tudo para manter os amigos, os laços e as boas histórias. Fui ao velório de uma pessoa querida e vi uma moça grávida. Acho que um dos motivos para se consolar das perdas é entender que a vida não para. Ela segue febril. A morte e o nascimento são dois eventos desta magnífica experiência que é viver.


Por tudo isso, eu digo muito obrigado aos amigos que me acompanham há mais de 30 quilos. Não vou conseguir voltar os ponteiros do relógio, mas os da balança vou me esforçar. 

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