sábado, 4 de agosto de 2018

Meus 10 cantores inesquecíveis

Amigos, eu queria ser cantor.  Efetivamente nunca corri atrás para concretizar este sonho. Ouvi de um amigo que eu tinha mais vocação para bastidor do que para ribalta. Pode ser, mas eu insisti sem muita convicção. Cantei em coral, sarau, bandinhas bissextas, mas não consegui ser cantor. Resultado: em casa, canto o tempo inteiro. Minha mulher e meus filhos reclamam. Acho que se tivesse investido conseguiria ser ao menos mais afinado, mas não levei o beijo do estrelato e não chegaria muito longe. Mesmo assim, sou metido a jurado do The Voice. Viro cadeiras, comento com aquela prepotência que só quem se acha cantor pode opinar. Logo, darei continuidade às minha coleções com nomes que eu gostaria de ter dividido a profissão. Os cantores. 

10° Lugar- Agnaldo Timóteo. Amigos, pode-se questionar as posições políticas, as escolhas de repertório, um pouco de prepotência até, mas é inegável que a voz dele é linda. Atinge notas improváveis, com um fôlego invejável. Timóteo é um dos grandes cantores do Brasil. 

9º - Lugar - Jessé. O cantor morreu cedo uma pena. Quando ele cantava Porto Solidão, seu grande sucesso, os mais frios se arrepiavam. “Rimas de ventos e velas, vida que vem e que vai. E a solidão que fica e entra me arremessando contra o cais”. A música tinha regiões muito agudas, e a voz encorpada de Jessé ia inteira em todas elas. 

8º Lugar - Dick Farney. Fui um adolescente fora do meu tempo em alguns momentos. Ouvia coisas que definitivamente não eram da minha época. Dentre as pérolas que ouvia estava Alguém como tu. Uma declaração de amor a alguém idealizado. Numa boa, é um luxo dizer para a pessoa amada  “Alguém como tu, assim como tu, eu preciso encontrar. Alguém sempre meu, de olhar como o teu, que me faça sonhar”. Com uma voz de veludo e melodiosa. Escute Dick Farney antes de criticar e apaixone-se. 

7º Lugar - Zé Renato. A voz dele é uma das mais bonitas da nossa música. Há uma canção no repertório do Boca Liver chamada Desenredo. Na hora do refrão, o quarteto começava a cantar sucessivamente “É Minas, é Minas, é hora de partir, eu vou, vou-me embora pra bem longe”. Quando o Zé entrava com a voz mais aguda era quase desumana a altura da nota que  ele atingia. O disco dele cantando Zé Ketti é primoroso. 

6º Lugar - Ney Matogrosso. Tive o privilégio de ver o show dele com o violonista Rafael Rabello. Que coisa linda! Mas inesquecível pra mim é sua interpretação de Rosa de Hiroshima, ainda no Secos e Molhados. Que coisa pungente e hipnotizante. Ney é um cantor único e, para satisfazer uma diferenciação proposta pela minha amiga Heloisa Paladino, além de cantor ele é um intérprete sensacional. 

5º Lugar- Roberto Carlos. Ele é um intérprete preciso. Um dos grandes méritos é que sua voz parece não envelhecer. A extensão é pequena, mas se põe totalmente a serviço da canção. A voz de Roberto Carlos é mais um instrumento melodioso para que a mensagem da música aflore a emoção no coração de quem ouve. 

4º Lugar -  Emilio Santiago - A interpretação dele para a canção Mascarada, de Zé Ketti é arrebatadora. A voz de Emilio é maravilhosa. Fruto da escola dos cantores da noite, ele cantava samba, samba canção, blues e jazz com  a mesma competência. Para conferir este ecletismo, basta ouvir a coleção Aquarela, em que ele enfileirou dezenas de sucesso do nosso cancioneiro. Uma voz que faz muita falta. 

3º Lugar Wilson Simonal. O rei da pilantragem acabou entrando para a história por causa de um episódio nebuloso com o seu contador, no entanto Simonal era um cantor maravilhoso. A interpretação dele para The shadow of tour smile ao lado de Sarah Vaughan é emocionante. A divisão rítmica de Simonal transformava até Meu limão, meu limoeiro em canção especial. Isso é puro talento, daqueles que nascem de 100 em 100 anos. 

2º Lugar - Tim Maia. Um fenômeno. Musical ao extremo, uma voz que não deixava espaços vazios. Ecoava como um trovão rítmico. De Primavera a Caminho do Bem, de Você a Descobridor dos sete mares, passando por Um dia de domingo, não há uma canção em que o síndico tenha posto a voz que não tenha ficado impressa sua assinatura. Ninguém tem o suingue de Tim Maia na música brasileira. 

1º Lugar - Milton Nascimento. Só ele para cantar Beatriz com todas as armadilhas harmônicas feitas por Chico Buarque e Edu Lobo. Só aquele extensão irreal para dar uma interpretação tão definitiva para a canção. Só Milton Nascimento para cantar Nuvem Cigana. Só Milton para cantar Canção da América, ou para soltar a voz em Travessia. Em seu auge, a voz de Milton Nascimento era um dos sons mais bonitos que Deus permitia aos ouvidos humanos. Quando eu disse que queria ser cantor, na verdade, eu queria ser Milton Nascimento. Se é para sonhar, que se sonhe em ser o melhor. 


Amanhã vou encerrar essa série de coleções com as minhas 10 novelas inesquecíveis. 

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