sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Minhas 10 cantoras inesquecíveis

A minha coleção de cantoras especiais talvez traga surpresas. Nesta terra que tem varias divas, colocar apenas 10 na minha lista foi difícil. Essencialmente, procurei lembrar daquelas que me arrepiaram em algum momento. Meu amigo Alexandre Caroli queria nomes internacionais. Honestamente, nenhum grupo, disco, cantor ou cantora internacional me toca tanto quanto os brasileiros. Não é xenofobia, é hábito. Claro que não passo incólume ao ouvir Billie Holiday, Dione Warwick ou Sarah Vaughan, mas elas não tocam tão fundo na minha alma como as mencionadas neste texto. Vamos lá. 

10° lugar - Angela Ro Ro. Tive o privilégio de viver uma aventura de um ano trabalhando com a Angela. Num dos períodos mais “trevas” de sua carreira. Acabo de perceber que quando fui produtor dela, Angela tinha idade que eu tenho hoje. Ela sobreviveu, graças a Deus. Ela é um monstro no bom sentido. Seu timbre rouco coloca a alma rasgada no que ela cantar. E o repertório é maravilhoso. Amor meu grande amor e Só nos resta viver são obras primas, mas para quem já foi a um show dela, não tira nunca mais da cabeça aa interpretações de Joana Francesa ou Fogueira. 

9º lugar- Maysa. Lamento muito não ter visto Maysa cantando ao vivo. Mas acho que ela viveu como cantou, ou cantou como viveu. Os olhos de gato dela a aproximam da Ro-Ro. Alias, as duas já foram comparadas várias vezes.  Angela tem uma pegada mais moderna e rock’n roll, Maysa seguia uma linha  mais samba canção. A interpretação dela para Demais é definitiva. Seu timbre aveludado deixando a alma no palco ao cantar uma canção que dizia muito sobre sua vida é inesquecível. Ah, Ne Me Quite Pas se eternizou no Brasil graças a sua gravação. 

8º Lugar - Baby Consuelo. A conheci cantando Menino do Rio. A canção é a trilha de abertura de Água Viva, bem numa época que eu começava a me dar por gente. Aliás, Água Viva é uma das minhas novelas favoritas (isso é assunto para outro blog). Depois vieram os cabelos coloridos e os nomes criativos dos filhos. Quando estava mais crescido, fui descobrindo os Novos Baianos e tudo que ela podia fazer com a voz, graças a uma afinação primorosa e um suingue contagiante. 

7º lugar - Elizeth Cardoso. Minha admiração pela Divina Dama é tardia. Quando ela morreu, em 1990, estava ocupado com sons mais roqueiros. No entanto, um amigo querido me deu de presente de aniversário o mítico Canção do amor demais, o tal disco no qual João Gilberto tocou o violão em Chega de Saudade e mudou a música brasileira. Elizeth era precisa, poderosa, plena. Pegando as canções difíceis de Tom e Vinicius e domesticando-as. Mandando todos os recados que as letras pediam. Se você nunca ouviu Elizeth Cardoso, corra para o Spotify e ouça pérolas como Eu não existo sem você, Medo de amar e Modinha. Você vai se apaixonar. 

6º lugar- Cassia Eller. Uma das reportagens que me deixaram mais triste de ter que fazer foi sobre a internação que precedeu a morte da cantora em 29 de dezembro de 2001. Mas esse texto é para celebrar e não para lembrar coisas tristes. Cassia era tão espetacular que ela cantava as musicas e num instante as canções viravam dela. Um exemplo é Por enquanto. A música era última faixa do primeiro disco da Legião, Cassia pinçou a canção e deu uma interpretação mais ágil e simples. Resultado, as pessoas praticamente esqueceram a primeira versão. Como esta, podemos recorrer a vários exemplos, Relicário, Luz dos olhos, compostas por Nando Reis. Tanto é que em All Star o compositor confessa: “ o tom que faço minhas musicas pra sua voz parece exato”. 

5º lugar - Elza Soares. Para mim é inesquecível um momento com ela. Até já contei essa história no blog, mas vou repetir. A cantora caiu do palco e se acidentou. Como tinha mais de 60 anos, todos ficaram preocupadíssimos. Os repórteres de plantão correram para cobrir o estado de saúde dela. Em determinado momento conseguimos entrar no quarto para entrevistá-la . Elza estava coberta até o pescoço, mas o rosto estava maquiado e o cabelo impecavelmente arrumado. Não bastasse tudo que Elza venceu fora das quatro linhas, ainda tem interpretações antológicas como as de Língua e de Se acaso você chegasse. 

4º lugar - Nana Caymmi. Quando fui assistente de produção do People no Leblon, cumpri algumas temporadas com a Nana na casa. Uma personalidade forte e uma intérprete poderosa. Comentei sobre o dia do enterro do Tom Jobim, quando ela cantou uma versão de Modinha, à capela, que a gente não ouvia nem a respiração do público tal a emoção do momento. O disco dela de regravações das canções de Dolores Duran é imperdível. É para ouvir e rasgar o peito. Além do que, a Nana me ensinou uma frase que levei para a vida: “desafinar, todo cantor desafina, os melhores são os que desafinam com mais classe”. 

3º lugar - Maria Bethânia. Abelha Rainha, Reconvexo, Brincar de Viver, Fera Ferida. A canção que ela coloca a voz parece transcender a música popular e virar algo quase religioso. Bethânia é intensa. Isso me fez lembrar um diálogo que a personagem de Sonia Braga tem no filme Aquarius. Ela aconselha um rapaz: “coloca Maria Bethânia para mostrar que tu é intenso”. Bethânia é uma diva. 

2º lugar - Gal Costa. A extensão vocal, o suingue e o timbre que parece uma peça fina de cristal foram algumas das coisas que fizeram-se Gal única. O que ela fez, principalmente no início da carreira, é copiado até hoje por muitas cantoras. Gal Costa era tão moderna, que seus discos do início dos anos 70 são atemporais. Gal é maravilhosa em Coração Vagabundo, Objeto não identificado ou Barato Total, canções de astrais completamente diferentes. Gal é completa. 

1º lugar - Elis Regina. A cantora morreu quando eu tinha 10 anos. Acho que foi a primeira morte midiática que me abalou. Na verdade, isso fez com que eu ficasse um bom tempo sem querer ouvi-la. Só me reconciliei com Elis ao fazer um especial sobre os 20 anos da morte dela para a Rádio CBN. Aí pude retomar “nosso relacionamento”. Não sai da minha memória ela cantando Redescobrir no último especial para a TV Globo, ou ainda, o clipe do Fantástico de O bêbado e a equilibrista. Tem a interpretação de cortar os pulsos para Atrás da porta. Elis aliava técnica e emoção. Na minha modesta opinião, a maior cantora de um país de cantoras. 

Bem, essa é a minha lista. Faça a sua e compartilhe aqui. Amanhã falarei dos meus 10 cantores preferidos. 



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