quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Bolsonaro gosta de apanhar

Um grande amigo me deu uma definição perfeita para as entrevistas e participações de debate do candidato Jair Bolsonaro. Ele não precisa se sair bem, precisa de algumas poucas respostas mais radicais. Aí os seus apoiadores, robôs ou não, tratam de espalhar as respostas e fabricar a narrativa do vencedor. 

A polêmica envolvendo a diferença salarial entre Renata Vasconcelos e Willian Bonner é típica desta nova realidade fabricada. Bolsonaristas reclamam vitória, porque ele colocou o “dedo na ferida” no fato do homem ganhar mais do que a mulher no telejornal. Os críticos do candidato do PSL dizem que ele tomou um “esculacho” da apresentadora. 

O fato é que os entrevistadores estão caindo na armadilha de Bolsonaro. Ele vai aos encontros para “apanhar”. Ele não tem vergonha de defender suas posições. Questioná-lo sobre suas opiniões homofóbicas, sua defesa da ditadura militar, ou de seu violento projeto para resolver a segurança pública só vai fazer com que ele surfe nos factoides. 

Não há muitas coisas novas que o candidato possa falar. Suas manchetes polêmicas já estampam jornais há mais de 20 anos. O capitão tem um eleitorado consolidado. Quem não quer sua eleição deve perguntar sobre suas propostas concretamente. Se a resposta não convencer, deve insistir. 

Só assim seria evitado que as pessoas ainda indecisas caíssem em seus braços. O discurso da ordem é atraente. O da moralidade também. Tem aderência no Brasil profundo. 

Conheço uma pessoa conservadora, que apoiou o movimento de 64 e é contra comunistas. Essa pessoa me disse com todas as letras: “não voto no Bolsonaro porque ele é um despreparado”. No entanto, a insistência em “bater” no candidato nos “mesmos lugares” mostra que os entrevistadores precisam se reinventar e se preparar. 

No programa Roda Viva, o jornalista Bernardo Mello Franco fez umas dessas perguntas úteis para que o eleitor conheça Jair Bolsonaro, fora da narrativa construída pelos seus apoiadores. Em mais de 20 anos como parlamentar, Bolsonaro apresentou 170 projetos, número considerado irrisório e que mostra um parlamentar mais preocupado em se promover do que em legislar. 

Cair na pilha de Bolsonaro é ruim para o jornalismo, para os eleitores que querem conhecê-lo e para o Brasil. Essa semana vai começar a campanha de rádio e TV. Se permanecer a lógica de outras eleições, a tendência é que o candidato do PSL perca a força. 

No entanto, é muito importante entender o destaque de um candidato com um discurso radical e vazio no cenário brasileiro. Bolsonaro é um sintoma que precisa ser desvendado. 


2 comentários:

  1. Excelente esse texto! Não poderia haver uma análise melhor! Parabéns!

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  2. Lamento, profundamente, tal "fake news"
    Para a felicidade de vocês, nós militares, em 1964, não deixamos que os esquerdistas implantassem uma ditadura vermelha nesse nosso país.Ao devolvermos a política às classes políticas de esquerda, fomos infelizes em não contestarmos todas as mentiras absurdas que os mais jovens vêm ouvindo dos petralhas comunistas e ladrões que se apoderaram de nosso INFELIZ PAÍS.

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