quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A rádio que falta no mercado do Rio de Janeiro







Vou fazer mais algumas considerações sobre o mercado de rádio do Rio de Janeiro. As emissoras costumam entrar no que se chama “Triângulo das Bermudas” da audiência nos dois próximos meses. As pessoas mudam seus hábitos nas férias escolares. Acordam mais tarde, saem mais de casa e isso tem efeito direto na medição da audiência. 

Outra coisa que ocorre nessa época do ano é a mudança dos parâmetros do Ibope. De acordo com dados do IBGE, o instituto atualiza o universo pesquisado, padrões etários e de classes sociais. Essas mudanças também mexem com os números. 

Com essa queda na audiência, algumas emissoras  aproveitam para lançar pilotos, testar novas vozes e formatos. 

Na televisão não é muito diferente. Alguns dos especiais de fim de ano da TV Globo, por exemplo, voltam mais tarde como programas da grade. 

Vou voltar a falar de tempo médio e alcance, métricas usadas pelo Ibope para dizer quem tem mais audiência. 

O tempo médio é a quantidade de horas que os entrevistados informam aos entrevistadores que ficaram ouvindo a emissora. O ouvinte diz que ouviu e o entrevistador coloca na pesquisa. 

O alcance de uma rádio é medido pelo número de vezes que o entrevistado afirma ter ouvido a emissora. Nesse parâmetro o importante é fazer promoções e propagandas, ou seja, estar visível para o entrevistado do Ibope. A estratégia da Tupi, por exemplo, era ter outdoor em lugares de grande circulação como a Ponte Rio-Niterói e a Central do Brasil, “envelopar” trens e recorrer a busdoor.  Ancorada nos laços “sanguíneos”, a Rádio Globo fazia campanhas esporádicas na TV Globo, além de usar busdoor também. 

Cada emissora investe no que é seu forte. Atualmente a grande briga no dial do Rio é entre FM O Dia e Rádio Melodia. A primeira, calcada num repertório popular, com forte presença em bailes e casas de shows da Baixada e da Zona Norte. A FM O Dia aposta tudo no marketing e na visibilidade. Com isso ela tem o maior alcance entre as rádios do Rio de Janeiro. A Melodia é una rádio evangélica e tem o ouvinte literalmente fiel. O tempo médio da emissora é assustador para a concorrência. Números de julho de 2017 davam conta que o ouvinte evangélico fica em média 4 horas sintonizado na emissora, quase o dobro do tempo da FM O Dia. Para manter esse tempo médio alto, a Melodia investe numa “retroalimentação”. As promoções são de “produtos” evangélicos. As relações com igrejas e congregações são ressaltadas e o repertório é de grandes nomes do gospel. Neste segmento a Melodia tem a concorrência da 93 FM, atualmente no quinto lugar do ranking geral. 

A situação da Tupi é a mais confortável em termos de audiência. Terceira no ranking geral foi ajudada pela decisão da Rádio Globo de mudar a programação. Isso deixou a emissora dos Diários Associados correndo “sozinha”. Uma boa aposta é a apresentadora Isabela Benito, que pode ser uma versão moderna da Cidinha Campos. Pedro Augusto saiu queimado da votação que livrou de forma efêmera a quadrilha Picciani da cadeia. Não duvidaria de novos ventos nas tardes da Fonseca Teles. Isso é opinião, não é informação. Antônio Carlos e Clovis Monteiro formam um eixo de programação muito forte em audiência e comercial. Com isso, a Tupi se tornou a rádio talk popular mais relevante do cenário carioca. Resta saber se há anunciantes para esse segmento. Audiência existe, nunca houve dúvidas. A questão é o vil metal. Contra a Tupi pesa o passivo trabalhista, o calote dado em dezenas de famílias que não viram a cor do pagamento de vários meses no ano passado. 


Apesar da Paradiso e da JB estarem no mesmo segmento, percebo no Redação Online, comandado pelo excelente Sergio Gianotti, uma tentativa de fugir do tradicional toque informativo das emissoras musicais. O texto é editorializado, com opiniões no meio, tirando o toque impessoal. Ou seja, a Paradiso, uma  rádio musical, tenta dar a esse programa uma “pegada” mais talk. 

A JB tem um modelo vencedor. Absoluta em seu segmento e quarta colocada no ranking geral. Tem sua programação e seus colunistas bem definidos. Talvez ao tocar muitos artistas dos anos 70, pode pagar daqui a algum tempo uma conta chata: o envelhecimento do seu público. 

Uma explicação bem resumida para quem não é do meio. Você escolhe os flashbacks da emissora da seguinte forma. Eu quero que minha rádio fale com um público de 35 a 50 anos. Faço uma conta de quando meu ouvinte mais velho tinha 15 anos. Nesse modelo, voltaríamos 35 anos. Ou seja, a música mais velha que devo tocar é do ano de 1982. Alguns exemplos de artistas que são bem aceitos nesta emissora: Lulu Santos, Paralamas, Kid Abelha, A-Ha, Michael Jackson, Men at Work. As belíssimas Sailling, de Christopher Cross, e Linha do Horizonte, do Azymuth envelhecem a programação. As rádios musicais também estão sofrendo não é de hoje com outro problema. Atualmente cada um faz a sua playlist. Por isso existem alguns movimentos como o da Paradiso de tentar uma linguagem híbrida. O chamado “vitrolão” está em maus lençóis. 

Qual a rádio que falta no dial do Rio? Se eu tivesse essa resposta, a venderia por 2 milhões de dólares a algum empresário de comunicação


Eu tenho uma opinião. E é apenas a minha opinião, não é a verdade. Eu acho que há espaço para uma rádio com jornalismo, prestação de serviço e interatividade. Poderia tocar música e dar uma cara nova às transmissões esportivas. Uma emissora com comunicadores que tenham presença nas redes sociais e com repórteres na rua. Que rádio é essa? A Rádio Globo dos anos 70 adaptada para a terceira década do século 21. Qual o problema? É uma emissora cara. Precisa de gente para fazer. Terceirizar helicóptero, colocar um repórter no Centro de operações e uma pessoa para coletar informações na Internet e entrar no ar atende aos critérios de custo, mas artisticamente é comprometedor. 

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