sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O Flamengo deveria ser punido





Dia de Flamengo e Independiente. Chego cedo ao estádio. Não consegui comprar ingressos antecipadamente. É final e lugar de rubro-negro é no Maracanã. Um grande amigo está comigo. Ele tem ingresso e eu não. Por obra do divino acaso, uma bilheteria vende as entradas. Jogo-me na insana luta para conseguir o ingresso. Depois de uma batalha digna do coliseu romano, consigo as entradas para o coliseu futebolístico. Isso aqui é Flamengo! Vamos ganhar desses gringos! Jogo complicado, mas o Flamengo abre o placar. No meio do jogo, a torcida que não conseguiu ingresso invade o estádio. Estou sentando no meu lugar, mas repentinamente as escadas e as cadeiras são tomadas por uma multidão. No fim, a frustração. O Flamengo não reverte a situação do primeiro jogo e os argentinos são campeões no Maracanã. Na volta para casa, impossível entrar em qualquer transporte público. A PM dispersa tumultos com cavalos e bombas de efeito moral. Parece que há 20 bandidos para cada policial. Ando uns três quilômetros com meu amigo para fugir da barbárie e conseguir condução. Chego ema casa cansado, com raiva pela perda do título, mas aliviado, porque cheguei sem me machucar. 

O relato acima é de um jovem de 24 anos, que em 1995 foi assistir uma final entre Flamengo e Independente no Maracanã. O pior, poderia ter sido na última quarta-feira. Talvez algum aluno meu, nascido em 1993, tenha passado por experiência semelhante em 2017. E vamos enfiar Karl Marx nesta discussão. A história se repete a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. 

A polícia do Rio e a diretoria do Flamengo estão se esforçando para que a frase do pensador alemão se concretize. Há 22 anos eventos semelhantes ocorreram. Se você adiantar ou atrasar esse filme, vai se deparar recorrentemente com esses episódios de violência. 

No entanto, há uma imprecisão em Marx. A farsa da repetição faz com que a tragédia só aumente.

Flamengo e governo do Estado fazem um jogo-de-empurra de responsabilidades, quando na verdade a culpa é dos dois. Um programa sócio-torcedor excludente, a relação promíscua entre clubes e torcidas organizadas, somadas à falência do estado agravaram as consequências de algo previsível. 

Evito falar de futebol nesse espaço.  Tenho tentado ser mais generalista, abordando música, política, “causos” de família e até minha parcas tentativas de colocar o corpo em movimento. 

Além do que, ultimamente, tenho acompanhado mais meu time e menos o futebol em geral. Logo, eu sou rubro-negro, mas não tenho a intenção, até por achar desnecessário, de transformar este espaço num blog do Flamengo. 

Achei algumas das piadas após o jogo engraçadíssimas. Uma com a imagem do Cid Moreira novo e a inscrição “ Vi CId Novo” era sensacional. Eu realmente levo na esportiva. Quem não está preparado para esses embates, nem deve “descer pro play” das redes sociais. 

No entanto, vou passar ao largo de minha frustração esportiva. Vou falar de minha frustração “cívica”. O que aconteceu na noite de quarta-feira no Maracanã foi inominável. Aqueles bandidos aproveitaram a debilidade da segurança no estado e passaram de todos os limites. 

O Flamengo tem que ser exemplarmente punido, perder mandos de campo como aconteceu com o Vasco, por causa da selvageria no primeiro turno do brasileiro, no jogo contra o próprio Rubro-negro. 

Quem sabe punido, o clube se posicione de forma veemente contra esses bandidos. Todos sabiam que iria acontecer alguma coisa. A confusão na porta do hotel do time argentino já prenunciava que algo grave estava a caminho. 

Vi um filme excelente chamado “Um homem entre gigantes”. O filme conta a história de um médico que descobre o risco para os atletas que praticam futebol americano. A história é verídica e mostra como a NFL, a CBF do futebol americano, quis desmoralizar o estudo. Em um momento do filme um dos emissários da NFL fala o seguinte:: “se 10% das mães acharem perigoso que seus filhos joguem futebol, em 20 anos o esporte acaba”. 

Citei o filme, pelo seguinte: que pai ou mãe vai permitir ou incentivar em sã consciência que seu filho vá a um estádio de futebol depois de ver as cenas de quarta? Tenho dois filhos, não vou colocá-los em risco. Não vou ao estádio. E sabe o que vai acontecer? Eles não vão criar a identidade com o time que podem ver ao vivo nos fins de semana. Daqui a pouco, num jogo entre Flamengo e Barcelona, o gol do Messi vai ser mais importante que o gol do Vizeu. Aí amigos, o futebol brasileiro acaba. 

Tenho vergonha por ter sido com bandidos que vestiam a camisa do time que torço. A imagem do clube ficou arranhada. No entanto, esse tipo de pessoa veste o uniforme de todos os times. A violência independe das agremiações;

Acabo de me lembrar de Ben Parker, tio do Homem Aranha: “grandes poderes carregam grandes responsabilidades”. Então o Flamengo, com a maior torcida do país tem que liderar esse processo. Talvez perder mandos na Libertadores seja a primeira coisa a acontecer para que o clube entenda seu papel. E a repetição dos casos deveriam acarretarno  aumento da pena, progredindo até para a exclusão do torneio.

O que aconteceu na noite de quarta-feira no Maracanã e nas imediações foi uma constatação perversa da matemática, em que menos com menos dá menos ainda. Menos segurança com menos civilidade tem como resultado menos humanidade. 

E em nada ajuda a atitude dos jogadores rubro-negros de não aceitarem as medalhas pelo segundo lugar. Aliás, contribui para a perda da civilidade e do espírito esportivo. O resultado pode ser constatado pelas agressões covardes de um bando que deveria estar preso. 

Uma estrutura corrupta como a CBF e um futebol contaminado pela insanidade de bandidos são a receita certa pra matar o esporte. Passou da hora desses falsos torcedores serem identificados e banidos dos estádios. Quem sabe um dia, possa levar meus filhos em jogos decisivos sem me sentir colocando-os em risco. 




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