quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Odebrecht, Gilmar e companhia






Quando eu tinha 10 anos tive o primeiro choque com a decisão de um julgamento. Não entendi porque o Guilherme Arantes cantando Planeta Água perdeu no Festival MPB 81 para Lucinha Lins cantando Purpurina. A música da então mulher do Ivan Lins era muito bonita, mas Planeta Água era um hino. A competição foi uma tentativa da TV Globo de resgatar a era dos festivais. Hoje em dia reality shows musicais ocuparam esse espaço. Na época, conversei com o pai de uma amiga que trabalhava na gravadora Som Livre. Ele me disse que as duas músicas eram fracas do ponto de vista comercial e que eu não deveria ficar tão irritado porque a minha preferida perdeu. Para ele, as duas eram ruins.

Aos 18 anos outra decepção. Não compreendi como “Ratos e Urubus larguem minha fantasia” da Beija-Flor, perdeu para Liberdade, Liberdade da Imperatriz Leopoldinense. Com todo respeito aos torcedores da Imperatriz, Liberdade, Liberdade era bonito, mas era mais um enredo histórico, uma exaltação à proclamação da República, como tantas outras. Ratos e Urubus era uma inovação. Foi uma guinada na estética luxuosa de Joãozinho Trinta, com fantasias que reproduziam farrapos usados por mendigos. E ainda tinha o icônico e censurado Cristo Redentor fantasiado de mendigo.

Juízes nos deixam irritados. Numa leviana linha do tempo, tudo pode ter começado quando Martha Rocha foi injustiçada no Concurso de Miss Universo de 1954. Outra injustiça foi quando Zico teve a camisa rasgada dentro da área no lendário Brasil e Itália na Copa de 82 e o pênalti não foi marcado.

O fato é que as decisões acima servem para discussões em botecos e nada mais. As sentenças dos juízes togados, que foram divulgadas nos últimos dias dão uma sensação de que o crime compensa e de incerteza nos caminhos do país.

Vejamos o caso de Marcelo Odebrecht. Saiu da carceragem da PF em Curitiba. O empreiteiro ficou dois anos e meio em cana, negociou uma delação premiada e foi para um palacete de 1000 metros quadrados. Odebrecht vai estar totalmente livre em 7 anos e meio, quando cumprir 10 anos de pena, ou um terço de sua condenação. 

O cidadão fraudou concorrências, pagou propina, meteu a mão no bolso do povo e em 10 anos ficará livre. Depois de participar de um esquema internacional de corrupção, com valores bilionários, conseguiu escapar. Sim, ele escapou. No Natal e no Réveillon desse ano vai estar em seu “pequeno” chalé. A justiça ainda deu uma forcinha para selecionar a lista de convidados. Como limitou a 15 pessoas o número de visitas, ele não vai precisar convidar os puxa-sacos que lhe importunariam. Pensando aqui com meus botões, o Mr Catra não poderia receber esse benefício. Ele tem 32 filhos, pela lei, ele teria que deixar 17 de fora. Se bem, que o Catra não vai precisar. Ele não é bandido, como o cidadão acima citado.

O operador do esquema de corrupção do PMDB, Lúcio Funaro, também recebeu o benefício de cumprir prisão domiciliar na fazenda dele. Só que sem tornozeleira eletrônica. Como a demanda é grande, o produto está em falta. Por isso, o juiz autorizou que o condenado fosse monitorado pela internet, por câmeras do próprio circuito interno da fazenda.

Tenho uma dúvida. A tornozeleira eletrônica é à prova d´água? Se não for, como Marcelo Odebrecht poderá curtir uma piscininha quando estiver entediado. Provavelmente ele não terá acesso à Internet, Netflix, Net e essas coisas. Odebrecht, Funaro e a primeira-dama da corrupção do Rio, Adriana Anselmo, foram beneficiados com a prisão domiciliar, mas não podem usar equipamentos eletrônicos que deem acesso à grande rede. Bem, tenho um aviso para os magistrados que concederam a regalia. Papai Noel passa de casa em casa no dia 24 de dezembro e desce pelas chaminés. Como o bom velhinho trabalha muito, deixem sempre uma bolachinha e um copo de leite para o coitado. Falando sério, não me parece crível que os condenados não usem a Internet em casa

E começou a operação desmonte da Lava-Jato. Livraram políticos do juiz de Curitiba e proibiram conduções coercitivas. Não há santos nessa história. Sergio Moro cometeu alguns abusos, como divulgar ilegalmente uma gravação da presidente Dilma Roussef. Por outro lado, o Ministro Gilmar Mendes, aquele que soltou o pai de sua afilhada de casamento, não é o paladino da justiça, que quer livrar o país do “populismo judicial”.

Eis que no final da quarta, Gilmar “chave da porta da cadeia” Mendes mandou soltar Anthony Garotinho. E tem gente que acha “Vai Malandra” o fim dos tempos.

Bom, pelo menos mandaram prender o Maluf, do jeito que estava, a punição para ele só iria acontecer em outro plano. Mais acima ou mais abaixo...

Quer saber, Purpurina era uma música bem bonita e a voz da Lucinha Lins parecia um cristal, ela não merecia a vaia no fim do festival.

Mas passados 36 anos, ainda prefiro Planeta Água







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