quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Vamos falar da Nova Rádio Globo






Dei-me uma quarentena de mais de 5 meses para falar da emissora que está de mudança da Rua do Russel. Esperei que não houvesse mais ninguém da minha época na linha de comando. Além disso, a nova grade foi lançada em junho, já se passaram seis meses da mudança, tempo suficiente para que o panorama comece a se desenhar. Então, agora, sinto-me à vontade para falar. A Rádio Globo foi lutar no segmento mais qualificado, mais em busca de êxito comercial do que de audiência. Os ouvintes que sustentavam a emissora do Grupo Globo não enchiam os olhos dos anunciantes, tanto pela idade, quanto pelo poder de compra. A carteira de clientes da rádio foi diminuindo ao longo do tempo e estava muito apoiada nos patrocínios de supermercados e remédios. O projeto da Rádio Globo precisa de um pouco mais tempo para ser avaliado. 

Como já escrevi neste espaço, aferir o sucesso de um produto na TV é muito mais rápido do que no rádio, principalmente por causa da metodologia da audiência. 

Para colocar todos os leitores na mesma página, a audiência do rádio medida pelo Ibope sai do cruzamento de duas métricas: tempo médio e alcance. 

O tempo médio é a quantidade de horas que os entrevistados informam aos entrevistadores que ficaram ouvindo a emissora. Veja bem, diferentemente da TV, em que os dispositivos eletrônicos informam se efetivamente a emissora foi sintonizada, no rádio, essa informação sai de uma pergunta sem “certificação tecnológica”. É quase como meu pai dizia, “no fio do bigode”. O ouvinte diz que ouviu e o entrevistador coloca na planilha. 

O alcance de uma rádio é medido pelo número de vezes que o entrevistado afirma ter ouvido uma emissora. Para crescer nesta métrica, o importante é fazer promoções e propagandas, ou seja, estar visível aos entrevistados do Ibope.

Feita esta explicação, vamos voltar a falar da Nova Rádio Globo. O êxito vai depender de quem olha. Para o antigo público vai sempre ser considerada uma tragédia. A resposta destes ouvintes se revela nas pesquisas de audiência. A Rádio Globo deve fechar 2017 com cerca de 30% da audiência que fechou em 2016. No entanto, esses números tem importância relativa para os gestores. Se a emissora fechar no azul e a sinergia com outros veículos do grupo ficar azeitada, o projeto será considerado um caso de sucesso. Logo, são inúteis quaisquer comparações entre Globo e Tupi. A Globo quer concorrer com a JB e a Paradiso, por exemplo.

Olhando de fora, acho que a aposta em Otaviano Costa correta. Vai ao encontro do que os gestores querem: “celebrismo”. Um nome conhecido e que sabe fazer uma emissora mais jovem. Tenho dúvidas se é para o público esperado pela Globo. Talvez ele atenda a uma faixa etária mais nova do que a dos 35 aos 50 que a rádio tem como meta. 

A faixa das 11h às 14h é a mais perigosa. Justamente por causa da forma que a audiência do Ibope é medida no rádio. Variar os apresentadores não cria o hábito, não é o melhor jeito para brigar pela audiência no atual modelo. 

A direção da Rádio Globo quer um jornalismo recheado de boas notícias. Quer ser uma alternativa otimista ao noticiário das outras emissoras. A Globo corre o risco de parecer alienada, tendo em vista o cenário caótico vivido em nossas cidades, com a ausência do Estado em áreas vitais como a Saúde e a Segurança Pública.

No esporte mantiveram as principais vozes, o que é bom, mas optaram por uma plástica mais para “baixo”, menos vibrante. Perdeu “malemolência”, na minha humilde opinião. No entanto, existe a busca por um novo ouvinte, que as pesquisam devem ter indicado, ser mais receptivo a esta estética. O perigo, é que a Transamérica pode ter chegado antes a esses ouvidos mais “novos”. Muitos dos tradicionais foram para a Tupi ouvir José Carlos Araújo e Washington Rodrigues.

Existe uma preocupação com as plataformas digitais, o que é fundamental para alcançar o público mais jovem. Ponto positivo do projeto.

A decisão da Globo é ousada. Saiu de um segmento que se mostrava deficitário, mas correu para um que está “engarrafado”. Não bastassem a poderosa JB e a Paradiso, chegou ao dial carioca a Alpha FM. O curioso na chegada da “paulista” Alpha é a tentativa de se “acariocar”, dando pinta que não vai priorizar a rede. Vamos ver até quando a economia vai permitir essa “ousadia”.

A Globo voltou-se para a rede. E tem mais, para funcionar, o projeto da emissora depende muito de como vai se sair em São Paulo. Quando transmitia apenas na banda AM, a Globo tinha números de audiência expressivos, mas a receita era baixa. A recente ida para o FM na maior cidade do país ainda não alavancou as vendas. E para deixar o quadro um pouco mais adverso, a audiência despencou na Paulicéia.

A Rádio Globo precisava se mexer. O fez de forma radical, vamos ver onde vai chegar. Dando certo, é mais mercado para os profissionais da área. Acho que os atuais gestores vão ter o ano de 2018 para acertar o que estiver errado. Em 2019, só recorrendo à Zora Yonara para saber.


11 comentários:

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  2. Parabéns Creso por finalmente se manifestar. Discordo em duas colocações fundamentais:
    1) Supermercado e remédios não interessavam mais.
    - São uns dos poucos dos quase nenhum anunciante que ouço atualmente por lá. Se não interessava, porque continuam? E cadê os novos anunciantes que seriam atingidos?

    2) Mais mercado para os profissionais da área?
    - Só estão colocando no ar gente da TV, demitindo todos os profissionais de rádio em pencas a cada mês.

    Eu não tenho dúvidas, deram um tiro no joelho.
    Um abraço amigo,
    Beto Brito

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    1. Produtores e redatores vai continuar sendo radialistas, Beto. Mas adoro conversar com quem é cordial e respeita a opinião alheia, como vc. Acho que é cedo para cravar tiro no joelho. De qualquer forma, vou torcer. Uma marca do tamanho da Globo não pode acabar. Abs

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  3. Fazer uma nova rádio, acho super válido. Trazer novidades é importante, mas acho que pelo tempo difícil, e economicamente falando, não se pode abrir mão de anunciantes como supermercados e remédios. É bom lembrar que na Toda Poderosa, mais de metade dos anúncios são de supermercados e alguns de remédios.
    Querer concorrer com JB ou Paradiso, acho inválido. São segmentos diferentes e na minha modesta opinião, nunca a Rádio Globo vai concorrer com estas duas, afinal são rádios musicais.
    Abraços

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  4. De tudo que vc falou só foi um Conselho - é melhor deixar a zora yonara fora disso. Corre o risco das previsões se tornarem maldi... Hahahaha

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  5. De tudo que vc falou só dou um Conselho - é melhor deixar a zora yonara fora disso. Corre o risco das previsões se tornarem maldi... Hahahaha

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  6. 1) Olhando de fora, acho que a aposta em Otaviano Costa correta. Vai ao encontro do que os gestores querem: “celebrismo”. Um nome conhecido e que sabe fazer uma emissora mais jovem. Tenho dúvidas se é para o público esperado pela Globo. Talvez ele atenda a uma faixa etária mais nova do que a dos 35 aos 50 que a rádio tem como meta.

    Também acho que Otaviano atenda uma faixa etária abaixo dos 35 a 50. Mas na "latinha" ele atende a faixa desejada. Sem sombra de dúvida, a rádio já está apertando o botão do transmídia. Uma "rádio+tv". Não é à toa o celebrismo, a futilidade e bichinhos fofos. Inclusive, investiram em câmeras. A direção de imagens ainda carece. Gosto do modelo Jovem Pan, que tem até lives.

    2) A faixa das 11h às 14h é a mais perigosa. Justamente por causa da forma que a audiência do Ibope é medida no rádio. Variar os apresentadores não cria o hábito, não é o melhor jeito para brigar pela audiência no atual modelo.

    É um erro. Não se cria o velho hábito. Porém, pode ser a experimentação do live na timeline. Outra coisa: o nível de engajamento do face da Globo era péssimo, mesmo com um milhão de curtidas. Claro que há outros fatores, como pagar o facebook para gerar alcance. A rádio sempre teve uma home page ruim, o que atrapalha agora.

    Outra fraqueza é o Youtube. A própria Tupi tem cerca de 160 mil inscritos. A Globo apenas 16 mil. Só o canal Jovem Pan Notícias, que concentras as lives da manhã, tem quase 300 mil.

    3) A direção da Rádio Globo quer um jornalismo recheado de boas notícias. Quer ser uma alternativa otimista ao noticiário das outras emissoras. A Globo corre o risco de parecer alienada, tendo em vista o cenário caótico vivido em nossas cidades, com a ausência do Estado em áreas vitais como a Saúde e a Segurança Pública.

    Exato. Não há como "perder tempo" agora com jornalismo se o vieis é outro.

    4) No esporte mantiveram as principais vozes, o que é bom, mas optaram por uma plástica mais para “baixo”, menos vibrante. Perdeu “malemolência”, na minha humilde opinião. No entanto, existe a busca por um novo ouvinte, que as pesquisam devem ter indicado, ser mais receptivo a esta estética. O perigo, é que a Transamérica pode ter chegado antes a esses ouvidos mais “novos”. Muitos dos tradicionais foram para a Tupi ouvir José Carlos Araújo e Washington Rodrigues.

    Talvez o principal ponto que não se converge na nova direção da rádio. O estilo que ficou é o tradicional, do velho público. É claro que ainda deve pagar a conta. Além da citação à Transamérica, temos até o Frequência Máxima com um estilo que está cativando os mais jovens.

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  7. Olá Creso,

    Como ouvinte que fui da velha Rádio Globo reparava que os comunicadores pouco ou quase nunca faziam testemunhais ao vivo (gravados poucos também), se comparados aos concorrentes que costumam ter esse tipo de anúncio aos montes, já ouvi e li em entrevistadas desses profissionais que eles tem o costume de ir atrás dos anunciantes, já que as agências de propaganda não vêem valor no público alvo de uma rádio popular como era a Globo. O que impedia desse tipo de comercial aparecer com mais frequência na programação da emissora e trazer um maior faturamento tanto pra rádio quanto pro comunicador?

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    1. Norma do departamento comercial para haver uma certificação eletrônica do que realmente foi entregue.

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  8. Creso, havia um jeito. Colocar os profissionais da casa para atuar na nova proposta. Eles eram e são competentes, e chamar alguns que estão de fora... O rádio que eu aprendi é feito ao gosto da direção de programação. Eu, por exemplo, sem falsa modéstia, fiz todos os segmentos do rádio de Tupi FM a Globo e Tupi AM, passando pela Mundial (dEL rEY- Paradiso) etc... e me sinto capacitado a encarar qualquer microfone, de qualquer emissora de rádio e afins. O que deu na direção??? Teria sido incompetência de gestão???

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