domingo, 17 de dezembro de 2017

Eu e a Rádio Globo parte I






O ano de 1997 foi de muitas mudanças. A que teve mais impacto na minha vida aconteceu em 28 de julho. Meu pai, o primeiro Creso da Cruz, descansou. Onze anos na cama, uma barra pesadíssima que ele enfrentou com galhardia. Poucos dias antes de sua morte, conversava com ele e perguntei se sabia quem estava falando. A resposta foi desoladora. Com muita dificuldade ele respondeu: “estou falando com o Conde do Santo Cristo”. Fiquei arrasado e respondi: “pai, sou eu, seu filho único”. Aí, com o pouco de energia vital que ainda restava, ele arrematou: “ué, onde fica a Rádio Tupi?” E caiu na gargalhada. Esse era o meu pai. Sempre com uma piada, mesmo com a linha de chegada a poucos metros. 

Era a linha de chegada também na faculdade. E então surgiu uma chance que não dava para desperdiçar. Fui chamado para cobrir férias na Rádio Globo. Não sei de quem partiu a ideia de meu nome, se do Luciano Garrido, da Luiza Xavier ou da Andrea Ferreira. Trabalhando na Tupi, encontrei com eles em várias  reportagens e na primeira oportunidade me chamaram. Lembro que o Luciano, um desses irmãos que a vida coloca no caminho  da gente falou: “véio, você chegou bem chegado, corre atrás que vai dar certo”. 

Em novembro de 1997 entrei na Rua do Russel 434, o endereço mais famoso do rádio brasileiro. Ainda nem tinha me formado e conseguira um trabalho lá. Logo no primeiro dia, tinha que gravar um destaque, Perdi o prazo e levei uma bronca do Ricardo Rodrigues. Bem, não tive outra oportunidade para levar bronca do Ricardo. 

No fim do expediente do meu primeiro dia de trabalho, o Marcos Gomes, coordenador na época, me deu a notícia: “Creso, a CBN está passando por alguns problemas e numa reunião hoje ficou decidido que não haverá mais cobertura de férias. Perdão, você não precisa nem voltar amanhã. Assim que a situação melhorar, a gente procura você”. 

Pois é, fui demitido da CBN com um dia de trabalho. Eu, que já tinha desistido de entregar minha monografia naquele semestre, procurei meu orientador e disse que iria me formar. A entrega era em 18 de novembro. Estávamos no dia 3 e não havia nenhuma linha escrita. 

Entraram em cena meus amigos da época do Cefet. Cristian, Márcio e o irmão dele, Marcelo. Foi uma força-tarefa para que eu produzisse meu trabalho que tinha como tema “Rio, do Império à República pelas crônicas de Machado de Assis”. 

Em 15 dias preparei. O esquema foi o seguinte: Eu escrevia, o Marcelo lia, o Cristian colocava nas normas da ABNT e o Márcio imprimia. 

A velha Dona Alzira, minha mãe, nos alimentava e torcia. Entreguei o trabalho que tinha “Machadado de Assis” na capa. A única coisa que meus amigos não revisaram. Deu certo! O estudo estava resolvido, mas a profissão...

Sem perspectivas no Rio, procurei meu amigo Marcelo Passamai, que era jornalista e secretário de comunicação da prefeitura de Florianópolis. Já que não tinha nada no Rio, viajaria para onde pudesse haver. 

Com algumas roupas na bagagem e litros de lágrimas derramados (sou dramático, dizem que devo ter alguma casa astral em câncer) me joguei na aventura. 

Marcelo foi extremamente acolhedor e me arrumou dois trabalhos.  Começaria na semana seguinte à minha chegada em fevereiro de 1998. Nos 7 primeiros dias de adaptação,  achei Florianópolis linda, como se fosse o Rio uns 50 anos antes. 

Liguei para minha mãe na tentativa de matar a saudade e ela me deu um recado: “uma moça chamada Luiza Xavier ligou pra cá e disse que a Radio Globo quer que você faça um trabalho lá. Ela deixou o telefone”. Peguei o número e liguei. Luiza me explicou que seria uma cobertura de férias e que novamente lembraram meu nome. 

Falei com o Marcelo e ele me disse: “você não tem nem o direito de ficar em dúvida”. Uma semana depois, estava de volta ao Rio. Meus amigos nem tiveram tempo de sentir falta. O maior drama, a maior choradeira para uma volta tão rápida. 

Em março de 1998 comecei minha relação com o Sistema Globo de Rádio. Pelos 19 anos seguintes, entre idas e vindas, foi minha segunda casa. Trabalhando no SGR casei, tive meus filhos, perdi minha mãe e conheci muita gente. 

Luciano, Luiza, Andrea, Ricardo, Marcos Gomes, Marcelo Passamai, Marcelo Leite, Márcio e Cristian - a gente é produto de nossas relações com as pessoas. Os caminhos se cruzam e se completam. Citando vocês, quero simbolizar que a vida é um desenho feito com muitas mãos. O sonho de um tem um pedacinho da vontade e da torcida do outro. 

Já fiz esse reconhecimento pessoalmente, mas agradecer nunca é demais. Ainda vou voltar a falar do SGR. Esse texto é um post não uma autobiografia completa. Por isso interrompo a história por aqui. 


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