terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Mas a minha sogra...








Dezembro é um mês de tantas recordações. Uma época em que você tenta interromper o fluxo da areia na ampulheta. Mesmo que você consiga, o tempo continua a escrever sua história. Então, um bom jeito é olhar para aquele monte de terra depositado na parte de baixo do primitivo contador de horas e ver que significados ele traz.  

Lembro que em setembro de 2002 tirei minha sogra para dançar. Estava num casamento de família. Bailamos lentamente, meus joelhos e os dela não poderiam ter aventuras dançantes. Podia ser uma valsa, não lembro, mas sei que foi a única vez que dancei com ela. 

Ela me acolheu como a um filho. Eu brincava com ela que eu era o único que a chamava de “sogrinha”. Para chamar de “mãe” ela já tinha três, “sogrinha”, só eu. 

Ela nasceu no dia 17 de dezembro de 1936, mesmo dia e ano do Papa Francisco. Além de toda a admiração que tenho pelo pontífice, ainda há essa coincidência para aumentar minha empatia. Sogrinha, desculpe, sei que não é gentil divulgar o ano de nascimento de uma dama, mas é por uma boa causa.

Acho meio cafona esse negócio de falar mal de sogra, só por ser sogra. A minha não era referência para essas brincadeiras, era o oposto. A vida não foi um mar de rosas, mas afinal, que vida é? Perdeu a mãe cedo e talvez por isso tenha sido tão plena na hora de ser mãe. Foi o típico caso de “vou dar aos filhos o que não tive”. Foi amparada pelo carinho das tias na infância, mas se ressentia de não poder ter convivido com a mãe. Minha sogra era bem humorada, tinha tiradas ótimas e conseguia fazer piadas de si mesma, o que acho um dom divino. 

Meu cunhado mais velho é militar, como o irmão, o pai, o avô e o bisavô. Ele foi servir fora do Rio. Durante o tempo que não esteve na cidade alugou seu apartamento. Fui com minha sogra pegar algumas coisas na casa do filho. Depois fomos tomar sorvete num quiosque na praia de Copacabana, onde ela chorou um pouco de saudade. Diga se isso não é a total inversão do que se costuma pensar numa relação de sogra e genro. 

Quando o Pedro nasceu ela ficou completamente apaixonada por ele. A chegada dele revigorou a vida dela. O Pedro pequenininho adorava dormir no seu colo. Ela ficava imóvel para que ele não acordasse. 

Certa vez eu, Ana Claudia e Pedro viajamos para o Ceará. Ao voltarmos, ela disse: “estou com saudade de vocês”.  Eu falei: “desculpe por deixar sua filha e seu neto longe”. Ela replicou: “estava com saudade de você também, afinal você também é minha família”. 

Como escrevi anteriormente, ela ocupava um lugar tão grande na vida dos filhos, que ainda pequena minha mulher se dirigiu ao pai e falou: “não sei como viveria sem a mamãe”. 

Num dia de março de 2004, todos tivemos que aprender a viver sem ela. Ela não estava bem de saúde, mas a rapidez da morte foi surpreendente. Como já ocorrera com meu pai e minha mãe, eu estava trabalhando na hora que aconteceu. 

Resolvi falar dela porque domingo seria seu aniversário. Vejo na minha mulher várias características que a aproximam da mãe, como por exemplo, a semelhança com uma leoa para cuidar dos filhos. 

Acho que as pessoas importantes devem ser lembradas quando partem. Elas nos deixam como legado amor e vários aprendizados. As lembranças confortam e diminuem um pouco o peso da ausência. Mas aí chega dezembro e bate uma saudade danada, quase dolorida. No entanto, saudade é reviver bons tempos. Minha sogra sempre vai estar aqui, seja pelas fotos e pelas marcas indeléveis que deixou em todos nós. 

Minha mãe, Alzira, e minha sogra, Ecila, mulheres tão importantes para mim, não se encontraram em vida. Não conheceram a neta, no entanto, emprestam força à minha filha. Tinham em comum o segundo nome, que foi transmitido à Clara Maria.


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