domingo, 10 de dezembro de 2017

With a little help from my friends




A reprovação no primeiro ano do Cefet tinha sido o maior revés que eu havia sofrido na vida. O ano de 1988 começava com o tremendo desafio de ter que recuperar minha autoestima e restabelecer a confiança dos meus pais no meu desempenho escolar. 

No primeiro dia de aula na volta ao Cefet,  eu cheguei virado, pois tinha voltado de um fim de semana em Arraial do Cabo. Entrei na sala de óculos escuros, olhei desinteressado para o pessoal em média dois anos mais novo do que eu. 

A primeira aula era de Química. O professor se chamava Almir, um tipo que tentava ser engraçado, mas cujo humor hoje em dia não sobreviveria dois minutos, pois usava de piadas sexistas. Ainda bem que mudamos todos...

O professor Almir perguntou: um exemplo de combustão? E o idiota repetente quis fazer gracinha e respondeu “Fafá de Belém”. Nunca estreei tão mal em um ambiente como naquele dia em abril de 88, mas estávamos nos anos 80 e na adolescência a gente erra para tentar consertar depois. 

Acho que a primeira pessoa a se aproximar de mim na turma de “pirralhos” foi o Cristian. Aliás, se aproximou para não mais se afastar. 

No começo eu falava mais com a galera que tinha sido da minha turma anterior, no entanto, o convívio se impôs e eu passei a andar com os calouros. Aliás, o Cefet tinha uma classificação para cidadãos como eu. Por ter repetido, vivia uma espécie de “limbo”. Eu não era veterano, era bi-calouro.

Revisando os acontecimentos, teve uma coisa boa no fato de ter repetido o ano. Pessoas maravilhosas entraram na minha vida para não mais sair. 

Tínhamos aulas de laboratório em canteiros de obras. Passávamos pela carpintaria, elétrica, hidráulica e outras partes que as três décadas de distância me fizeram esquecer. Como as turmas eram divididas por ordem alfabética, fiquei com Cristian, Cristiana e Cristiane. Os três excelentes alunos, jeitosos e safos. Eu, desesperadamente, desajeitado. 

Era um tal das minhas paredes ficarem tortas, dos meus circuitos elétricos não acenderem as lâmpadas que sem a ajuda deles a coisa iria ficar feia. 

Engraçado, nenhum de nós acabou trabalhando com Construção Civil. Cristian virou defensor público, Cristiana até se formou em engenharia, mas fez carreira num grande banco e hoje tem uma empresa de intercâmbios. Já a Cristiane se tornou artista plástica e mora fora do país. 

Outras quatro pessoas muito importantes na minha vida entraram em cena nessa época. Márcio, Gisele, Flávio e Martha. Os dois últimos não eram da nossa turma. 

Hoje vou destacar um deles. Um dos irmãos que o Cefet me proporcionou. O Márcio se tornou o companheiro de todas as horas. Passados quase 30 anos, tornei-me padrinho de casamento, afilhado de casamento e compadre dele. Temos o temperamento absolutamente diferente. Eu sou rubro-negro, ele vascaíno. Eu falo pelos cotovelos, ele fala o necessário. Acho que nossa amizade foi forjada nas diferenças, eu por gostar de falar e ele por gostar de ouvir. 

Ele foi aquele amigo dos papos sobre o futuro, de dizer o que sonhava, com quem sonhava e o queria sonhar. Fomos ombro um do outro em varias situações em nossas vidas. Ele é uma das primeiras pessoas que ligo para contar as novidades. Márcio é um amigo com que conto nas mortes e nos nascimentos que enfrento pela vida. Uma vez a gente estava andando na Lagoa e eu tive a ideia de andar num pedalinho. Marcio olhou desconfiado, mas falou vamos. A única exigência foi que a gente não pegasse um com o formato de cisne. Talvez fosse melhor ter encarado o “mico” de usar o pedalinho com o formato da ave. Meu pedalinho quebrou, se o Marcio não fosse um cara bem forte, ficaríamos à deriva. Por falar em aventuras na água, com o Márcio reatei minha relação com o mar. Inspirado por ele, remei em canoa havaiana e superei alguns medos. 

No terceiro ano do Cefet entraram mais pessoas na família. Paulinho, Shiniti, Murdoco, Emilio, Léo, Peixe, Tell e o time ficou completo. 

Tenho um orgulho danado de poder contar com essas pessoas há tanto tempo. Tenho histórias especiais com todas elas. A vantagem de ter um blog, é que posso escrever sobre todo mundo. Posso reconhecer aqui o quanto eles são importantes para mim. 

Desejo a vocês amigos tão especiais quanto os que eu tenho. Volta e meia, na vida deste blog, eles vão voltar como protagonistas ou observadores. Eles fazem parte da minha rotina. Com a ajuda das suas palavras, seus conselhos e suas discordâncias vou tecendo a trama da vida. 


3 comentários:

  1. Mt bom
    Sugiro escrever mais sobre aquela época

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    1. Obrigado Renato. Vou escrever. Um abraço. Mas vamos escrever sobre o agora. Nossos filhos e aquele churrascão em Búzios. Abs

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  2. Creso sua pródiga memória contribui em muito para a minha que é falha. É mesmo impressionante que longe quase 30 anos ainda mantengamos contrato. Obrigado pela sua amizade.
    Temáticas sugeridas enroladinho, Quinta da Boa Vista, Itaipuaçu, Maricá, etc

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