sábado, 2 de dezembro de 2017

Dona Mariana - I (o início)







Em 2017 estou encerrando um ciclo, por isso, comecei a pensar quando esses processos aconteceram em minha vida. Quando foram as “mortes” e os “renascimentos” pelos quais passei. Vou dedicar os fins de semana de dezembro a essa viagem nostálgica. Diferentemente de uma matéria jornalística, na qual o lead deve se sobrepor à cronologia, vou fazer uma linha do tempo para facilitar a escrita e a leitura destes textos.

Na Rua Dona Mariana, em Botafogo, recebi as primeiras noções do que era a vida em sociedade. Pouco depois de completar 5 anos, em 1976, cheguei ao novo endereço.

Uma das primeiras providências do meu pai foi comprar um balanço e colocar na varanda do novo apartamento. Vocês podem pensar que era praticamente um latifúndio. Não era. O balanço ocupava a varanda toda. Eu o adorava, fazia dele uma nave espacial e chegava aos planetas mais distantes.

Variava as viagens “espaciais” com “voos de helicóptero”. A aeronave surgia quando eu colocava de cabeça para baixo a nossa cadeira de balanço de palhinha. Minha mãe enlouquecia, pois dizia que eu iria quebrar a velha cadeira. Com ela, eu sobrevoava as praias e podia chegar naqueles lugares que a televisão mostrava. Pouco mais de 20 anos depois entrei num helicóptero profissionalmente. Não foi como piloto e nem de brincadeira, Fazer boletins aéreos de trânsito era menos emocionante do que a velha cadeira de balanço de cabeça para baixo, mas tinha seu fascínio.

Dessa época lembro que adorava ver um desenho chamado Barbapapa. Eram uns bonecos disformes, os episódios tinham uma musiquinha grudenta, que nunca aprendi a letra, Também me marcou o final de uma novela, chamada Cuca Legal, pois o Francisco Cuoco pulava de paraquedas no último capítulo. Não recorri à internet para saber o enredo dessa novela, acho que é mais legal pensar no Francisco Cuoco de paraquedas.

O que eu adorava mesmo era o Sítio do Pica-pau Amarelo. 
Gostava do Pedrinho, eu queria ser como ele. Viver uma aventura ao lado de Hércules, ter um amigo Saci e um boneco de espiga de milho que virava gente e conversar comigo. Acima de tudo, gostava da música tema da personagem.  (https://www.youtube.com/watch?v=LCXqhC2vFRg).

Tive uma paixão pela Narizinho, da Rosana Garcia, apesar de nem entender o que era paixão na época. O episódio do Minotauro, com o Gracindo Júnior de Teseu, e a Lúcia Alves, no papel de Ariadne, foi um dos meus preferidos, apesar do medo que sentia do Minotauro.

Aliás, o Sítio tinha o personagem mais amedrontador da minha Infância: a Cuca. Meu irmão Daniel, 12 anos mais velho do que eu, adorava me assustar. Eu gritava para minha mãe: “O Daniel está fazendo “movimentos de Cuca” para me assustar”. Dona Alzira dava uma bronca infrutífera no Daniel, que já na próxima cena em que aparecia a personagem, assustava o caçula medroso. Minha ojeriza à Cuca era tamanha, que eu não conseguia nem comer um doce que levava o nome da personagem.

No entanto, um dos episódios mais emocionantes dessa época não aconteceu na Dona Mariana nem no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Teve como palco o Largo do Machado. Sabe aquela expressão “criança cega a gente”. Pois é, apliquei algum “drible” involuntário na minha mãe. Quando dei por mim, estava perdido naquele mundo paralelo chamado Largo do Machado. Vi uma aglomeração e me aproximei. Um homem com chapéu de cangaceiro tocava um triângulo e fazia um repente. Na esperança de conseguir publicidade para meu desespero, me aproximei. Não adiantou: o homem fez um repente com meu drama e ninguém apareceu para me buscar. Do episódio guardo um trauma com o som do triângulo, que me angustia até hoje nas festas juninas.

Fui em direção a outro grupo reunido. Era um culto evangélico, onde consegui que orassem por mim. Na verdade, alguém com uma praticidade mais terrena perguntou se eu tinha telefone. Como já escrevi, tenho facilidade com números. Aos 7 anos eu já sabia de cor o velho 246-3220. Sim , sou do tempo com os telefones fixos de 7 números.

A boa alma me levou a um orelhão e eu liguei para casa. Meu pai atendeu, tomou um susto e uma amiga da família, a Zelita, foi me buscar. Estamos falando de 1978, não havia celulares ou Whatsapp. A modernidade era TV à cores. Zelita chegou e minha mãe me encontrou ao mesmo tempo. Pensei que seria resgatado como um filho pródigo querido. Nada, a velha dona Alzira me deu uns cascudos e uma bronca danada.

Como punição, me deixou sem TV uma semana e mandou que meu irmão David me ensinasse a tocar violão. Acho que a didática da minha mãe não funcionou. Apesar de ter muita vontade de tocar, eu e o violão acabamos ficando em planetas distantes.

Olhando para trás, penso em como foi importante “viajar” na Infância e como a minha mãe sempre foi necessária para me fazer voltar ao chão e poder continuar caminhando.

Esse foi o início do cordel, pelo menos da parte que comecei a tentar virar protagonista. Um começo em meio aos “helicópteros”, “naves espaciais”, cascudos e muito amor. Estava na hora de ganhar o mundo. Amanhã conto mais.

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