quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

As selfies com Rogério 157








Na história que contei ontem omiti um detalhe. Tive um desentendimento com uma das vítimas do assalto. Pouco antes do de sermos trancados no banheiro, ele soltou uma frase para os bandidos que na hora me pareceu incompreensível e irresponsável: “vocês poderiam tirar uma foto com a gente”?

Mandei-o para as partes mais recônditas da anatomia humana. Não achava e nem acho, que seja recomendável brincar com alguém que tem uma arma apontada para sua cara. A tecnologia dos telefones não era como as de hoje. Tirar fotos no celular era um luxo. Se houvesse o registro, seria numa câmera pré-histórica mesmo.

No entanto, ao ver as fotos dos policiais civis com Rogério 157 após a prisão, vi que meu amigo estava apenas lançando uma tendência. Vai aqui meu pedido de desculpas. Ele era uma pessoa na vanguarda dos avanços tecnológicos.

Falando seriamente, essas selfies de policiais com o 157 mostram exibicionismo, desrespeito, falta de postura... Está tudo errado. Numa das imagens, o bandido está até sorrindo. O que deu na cabeça desses cidadãos que pareciam estar numa confraternização de fim de ano, em vez de presentes numa operação que prendeu o bandido mais procurado do Rio nos últimos tempos?

Quando Elias Maluco foi preso em 2002, ainda me lembro da reação dos jornalistas na chefia de polícia, onde o bandido foi apresentado. Ele tinha comandado a execução do jornalista Tim Lopes. Acho que envolvidos pelo fato de ter sido um de nós a vítima do bandido, muitos jornalistas hostilizavam Elias. 

Fosse agora, a prisão seria registrada por selfies, certamente. Fotos com indefectíveis cabecinhas viradas e gestos como o “V” de vitória nas mãos. Nossa cultura exibicionista chegou às raias da loucura.

Todos foram inclementes com a modelo Nana Gouveia quando ela tirou fotos após uma tempestade tropical nos EUA. O que fizeram os policiais civis ontem foi muito pior. Foi um desrespeito à população. Exige-se da polícia correção no cumprimento da lei. Fazer selfie para “tirar onda” que prendeu o bandidão é na melhor das hipóteses frivolidade. Falta grave pela qual devem responder em processos internos.

A prisão de Rogério 157 não foi uma ação entre amigos. Aliás, hoje o posto de bandido mais procurado é de Rogério 157, mas já foi de Cabelada, Denis, Escadinha, Marcinho VP, Bem-Te-Vi e Nem só para falar de alguns. Não podemos cair na esparrela que a prisão de 157 é um marco histórico na cidade.

Sem mudança nas políticas de segurança essas prisões nada mais são do que toalhas para secar icebergs. Tem que ter um modelo sério, em que traficantes são desarmados, as comunidades tenham a presença do estado com porções de cidadania, não com a pirotecnia que aconteceu na Rocinha em setembro.

Odeio frases do mundo corporativo, especialmente os termos em inglês. Sinto que Machado de Assis, Eça de Queiroz e Olavo Bilac devem se remexer em seus túmulos. Mesmo assim vou recorrer a uma das frases corporativas que já ouvi, só que em português: Não chegaremos a lugares diferentes tomando decisões iguais.

Quantas vezes já vimos um secretário de Segurança dando coletiva após a prisão de um perigoso traficante? Os secretários se sucedem, os perigosos bandidos se sucedem e o problema da violência permanece.

E talvez a selfie dos policiais com Rogério 157 possa mostrar muito mais do que quis. Os policiais pareciam ter ganhado a guerra, quando na verdade estavam comemorando uma vitória, que realmente nem era tão vitória assim. Enquanto discutíamos as fotos dos policiais, um novo rei já estava entronizado e controlando os negócios na Rocinha.

E para finalizar uma piada antiga, da época que as máquinas tinham filme. Uma excursão de turistas estava pelas ruas de Paris. Eles entravam e faziam a festa, tiravam fotos de absolutamente tudo, voltavam organizadamente para o ônibus e continuavam a viagem. No Museu do Louvre todos desceram menos um. O guia ficou preocupada o perguntou o motivo dele não ter acompanhado o restante do grupo. O turista foi sucinto: “Acabou o filme da minha máquina”.

Logo, nos nossos tempos, prender e não mostrar que prendeu fica incompleto. Foi problema desses policiais em particular, mas também da nossa sociedade em geral.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário