domingo, 24 de dezembro de 2017

Feliz Natal







Olhava para o palco do auditório do Colégio de São Bento e muitas vezes a vista ficava embaçada. Os olhos não têm limpador de para-brisa. Deveriam, assim a gente não precisaria colocar tanto as mãos neles para rudimentarmente secá-los.

Filhos adolescentes emocionam. Os andares são desajeitados, naquela postura em transição da criança para o adulto. Em alguns momentos você vê aquele pequeno ser que lhe fazia andar envergado, mas logo depois percebe uma expressão diferente, um jeito único que evidencia o que eles podem vir a ser. 

Por mais que nos sintamos o arco, o voo da flecha é impreciso e incalculável. Nós fazemos a nossa parte, conversando e tentando passar nossos valores de justiça e bom convívio social. 

Como escrevi ontem, meu filho concluiu o Ensino Fundamental. Com todas as dores, delícias e anormalidades normais na idade. Como disse um dos professores homenageados, meu filho não está apenas terminando um ciclo, mas recomeçando. 

Nada mais apropriado que o recomeço seja na época do renascimento que o Natal provoca em nossos corações. 

Independentemente do credo professado por cada um, a data provoca reavaliação. Sempre tento fazer desta época meu recarregador de bateria, ficando junto de quem amo. 

Olhando meu filho concluir o Ensino Fundamental, lembro que o estudo como a vida é um prédio em construção. 

E como um prédio, a vida precisa de fundações, piso, paredes, revestimento e decoração. No entanto, a vida é uma obra em progresso. É angustiante e desafiador o fato de que o construtor não terá noção da obra acabada. 

Porque toda vez que a gente olha o edifício, falta alguma coisa. 
E a construção não é um fazer solitário. Tem os que fiscalizam, os que criticam, os que elogiam e os que moram. 

Moramos em nós mesmos e no afeto de quem amamos. E com os laços formados nesses primeiros anos organizamos nossos condomínios. 

Chegam novos vizinhos e o prédio continua subindo. Não podemos esquecer um aspecto: a capacidade de suportar as cargas vem da fundação. 

E nós, os pais, somos ao mesmo tempo, arco, pilar, esteio e financiador desta construção. Pais são completamente apaixonados pelo prédio. 

Natal é renascimento, Natal é reconstrução, Natal é recálculo de rota. Que a argamassa que preenche os tijolos dos nossos prédios esteja cheia de amor, saúde, compreensão, resiliência e força.

Do discurso de um dos professores vou tirar um fragmento para encerrar esse texto. Um fazendeiro tinha vários cavalos. Um dia o mais bonito deles caiu num poço bem fundo. O capataz perguntou o que fariam, porque a profundidade do poço impedia o resgate. O fazendeiro mandou que ele enterrasse o cavalo no fundo. O capataz não entendeu. Como o fazendeiro enterraria seu cavalo mais bonito? No entanto, cumpriu a ordem. E começou a jogar terra, mas o cavalo recusava deixar-se enterrar. A cada porção de terra jogada, ele se sacudia e tirava a terra de cima. Com o passar do tempo, o capataz foi percebendo que a terra que ia para debaixo do cavalo o suspendia. Passado algum tempo, o cavalo saiu do poço, com alguns arranhões, mas vivo;    

Que nós tenhamos a consciência da obra que somos e proporcionamos ao mundo. E que o não deixar-se enterrar possibilita a sobrevivência, mesmo que com alguns arranhões.


Feliz Natal!

3 comentários:

  1. Bacana como sempre, meu amigo.
    Feliz Natal pra ti e pra toda família! 💙

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  2. Emocionantes palavras que reforçam a convicção de que o mais importante é o caminho e não o destino. O caminhar é uma arte e um grande desafio, que faça mais suave quando estamos de mais dar as com aqueles que nos sustentam e impulsionam.

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