segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Apenas cumprindo com sua obrigação








Chefiar uma equipe é um desafio diário. Acho que o primeiro choque quando você assume um cargo é a mudança do lado “balcão”.

Sempre falei que não queria ser o chefe mais amado da face da terra. Queria ser tão amado ou odiado quanto os outros. Uma vez eu conversava com o grande parceiro Dé e ele me explicou a lógica do plantel de jogadores de futebol. Só estão “fechados” com o técnico aqueles que estão jogando, isto é, onze jogadores. O resto fica insatisfeito.

Na roda viva que é a rotina com acúmulo de trabalho e a remuneração aquém do que os profissionais merecem não fecham a “conta”. As equipes se irritam e o chefe é a face mais próxima da empresa e as reclamações são para ele.

O grande desafio de um chefe ê não deixar que a simpatia por alguém ocasione qualquer tipo de privilégio. A chefia é um lugar solitário. Existe pressão do seu chefe, do chefe do seu chefe, da equipe, das áreas com que seu departamento tem que se relacionar. Às vezes a vontade que dá e jogar pó de pirlimpimpim (quem via Sítio do Pica-pau Amarelo entenderá) e sumir.

Um chefe tem que ter a noção de que o brilho tem que ser do repórter. A primeira vez que ouvi isso, ainda não tinha assumido cargos de chefia no jornalismo.

No fim do século passado existiu uma CPI do Narcotráfico (saibam que toda vez que eu fizer menção ao século passado é porque estou tentando dar um verniz histórico ao caso vulgar que vou contar). Voltando à história, por problemas com a escala dos operadores, não havia ninguém para montar a linha no lugar em que aconteceriam os depoimentos no Rio de Janeiro.


Tornei-me uma pessoa versátil por necessidade e dentro dessa característica aprendi a montar a linha. O que me incomodou foi o fato de montar a linha e não ser eu o repórter a fazer a cobertura. Irritei-me profundamente e deixei isso claro para o meu chefe. Achei um desprestígio e fiz “bico”.

Fiz outra reportagem, da qual não lembro uma palavra da pauta, sai no meu horário (coisa rara) e fui para casa dormir. Eis que quando dormia de tarde, toca meu telefone. Atendo e do outro lado Marco Antônio Monteiro, um dos meus primeiros professores na profissão foi direto e bem ao seu estilo disparou: “Estou preparando você pra ser chefe, só que a sua atitude me decepcionou. Quero saber se você quer ser preparado para assumir uma chefia, ou se vai ficar dando ataque de estrelismo. Não precisa responder agora. Segunda você me diz”.

A partir dali, resolvi não me levar tão a sério. Quatro anos mais tarde, quando assumi uma chefia fixa, a sentença foi repetida na primeira conversa comigo com minha chefe: “quem tem que brilhar é o repórter, a chefia tem que dar condições para que ele cresça”.

Com o tempo você vai sentindo o que cada um da equipe pode render. Uma equipe acaba tendo a cara do seu chefe, pois afinal, ele a monta. Sempre tentei ter uma equipe versátil, em que todos pudessem exercer diferentes funções. Na medida do possível, tentava que todos fizessem o que gostavam de fazer. No entanto, a redução no número de funcionários nas redações vai fazendo com que os mais versáteis sobrevivam.

Outra coisa, o chefe deve ter a sensibilidade de perceber qual a sua deficiência e colocar em postos-chave quem possa completá-lo. Então se você é cartesiano, mas não é criativo, coloque uma pessoa criativa ao seu lado. Se você é desorganizado, coloque do seu lado alguém que não seja caótico.

Para ser chefe você tem que ter em mente que agora não é responsável apenas pelos seus erros e sim pelos erros da sua equipe inteira.

Não tire da reta, brigue por sua equipe e não espere nada de volta por isso. Você está apenas cumprindo sua obrigação.

Um comentário:

  1. Lidar com pessoas é o principal desafio das nossas existências. Enquanto seres humanos, qual é a diferença entre o "tocador de gado" do Centro-Oeste e o presidente de uma grande empresa? Nenhuma!
    Contudo a necessidade de obter os melhores resultados dos seus liderados e o impacto de suas decisões ante um vale entre a posição 'confortável' do "tocador de gado" e o presidente.
    Sob a minha ótica pra melhores líderes são aqueles mais completos, a liderança é de acordo com o ambiente e as pessoas, existem grupos ou setores onde a liderança mais adequada é a da autoridade, enquanto que em outros a melhor liderança é a do compartilhamento das decisões e envolvimento das pessoas.
    Procuro ser coerente e criterioso.

    ResponderExcluir