quarta-feira, 22 de novembro de 2017

O TOC nosso de cada dia










Eu tenho TOC. Não fui diagnosticado por um profissional sério, mas acho que minha mania por números é muito grande, logo a exacerbação das manias provoca o transtorno. Então, levianamente autodiagnosticado, tenho TOC

Tem gente que não veste preto, outros, como personagem do Jack Nicholson em Melhor Impossível, pulam os quadrados pretos no chão e por aí vai. Meu TOC é com números. O que vai se seguir agora é uma demonstração dessa minha obsessão.

Os sintomas começaram aos 7 ou 8 anos quando comecei a calcular MMC e MDC. Não havia PS4 e o Atari estava além das minhas posses, então minha diversão em casa era fazer MMC e MDC.

O primeiro número que me apaixonei foi o 720. Ele é divisível por quase todos os números até 10. Só não é múltiplo de 7. Então troquei o 720 pelo 5040. Esse sim, um número divisível por todos de 1 a 10.

Mas o 5040 era muito pouco diante da literal infinidade dos números. Nesse momento, passei a me interessar pelos que são potência de 2. Nessa categoria me apaixonei pelo 256. Achava que por ser 4 elevado a quarta potência, o número carregava algum valor transcendental. Até hoje, fora do meu universo numérico, não encontrei essa transcendência.

Mas a vida não é feita apenas de números pares e comecei a me interessar pelas potências de números ímpares. O primeiro, obviamente foi o 3. Mas logo ele foi ultrapassado pelo 9. E quase por um acidente esbarrei no 81 (9 X 9). O 81 entrou na categoria do 256, por ser 3 elevado a quarta potência.

Paralelamente a isso, fui desenvolvendo uma habilidade de fazer multiplicações rápido. Dessa forma multipliquei 256 por 81 e encontrei 20.736.

Achei engraçado e resolvi multiplicar 256 por 256 e encontrei 65.536 e reparei que a terminação era igual, 36. Depois multipliquei 81 por 81 e encontrei 6561. E de uma forma tortuosa, estabeleci um parentesco entre esses números. Por exemplo, se pegarmos o 81 e multiplicarmos por 4, encontraremos 324, ao passo que se pegarmos o 256 e multiplicarmos por 4, chegamos a 1024.

Antes que o leitor acredite que isso é um tratado matemático, ou apenas uma extrapolação da minha loucura numérica, vou entrar no assunto. Essa relação com os números me deu a noção de que não adianta ficar parado. Quando você acha que chegou, está na hora de continuar.  Meu universo matemático foi muito além de um número que fosse divisível por todos os números até 10. Se eu tivesse parado ali, não teria encontrado outros mistérios. Por exemplo, 12 X 12 = 144, 21 X 21 = 441; 13 X 13 = 169, 31 x 31 = 961. Quase posso dizer que esse fenômeno só acontece com esses números em meio ao infinito.

O que faz 12, 13, 21 e 31 tão próximos e guardarem essa característica tão particular? Eles se relacionam tão bem que formam uma confraria. 12 X13 = 1-5-6 enquanto 21 x 31 = 6-5-1. Então é isso, você pode encontrar seu número parceiro e ter diversas afinidades. Apesar das infinitas possibilidades a vida guarda a arte do encontro. O 12 e 21 são múltiplos de outros números, 13 e 31 são números primos, desprezados e sem romantismo. O 13, coitado, é tido como o número do azar. No entanto ao se juntar com suas caras metades, 13 e 31 ganham significado e produzem um fenômeno único.

Logo, juntar elementos diferentes em opiniões e habilidades só faz com que o conjunto cresça. Descobrir o crescimento na diferença é um exercício importante para a vida. 

Outro dia, minha querida Fernanda Galvão, jornalista especializada em política, fazia críticas à postura e ao discurso de Jair Bolsonaro durante o programa Canal Livre, da Band. Nisso, uma pessoa entrou na sua timeline e perguntou se ela era petista. Bem-humorada, Fernanda deu uma resposta dura e depois se permitiu brincar com a tacanha e intolerante pergunta. Hoje em dia queremos impor limites e rótulos nos pensamentos dos outros, como se pensamentos pudessem ter rótulos...

Ir ultrapassando os limites e compreender que o caminho é infinito é a grande lição que a minha obsessão por números me legou.

Os números me mostraram que quanto mais descobertas você faz, mais perguntas vão surgir. E quando isso se apresenta, você tem algumas opções. O conformismo de largar de mão os cálculos, ou a eterna angústia que movimenta e faz você perguntar e querer saber mais. E andar, paciente companheiro que chegou ao fim do texto, é o sentido da vida.

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