terça-feira, 7 de novembro de 2017

Onde posso dormir?







Muita gente fala que 2016 foi um ano impressionante, em que muitas coisas aconteceram. No entanto, as pessoas não lembram mais como foi o ano de 2001.

Só para lembrar, o primeiro ano do século 21 foi palco  do acidente com o ultraleve do cantor Herbert Viana, da morte do governador de SP Mário Covas, do naufrágio da P-36, na Bacio de Campos, do sequestro da filha do Silvio Santos, do sequestro do próprio Silvio, do 11 de setembro e da morte de Cassia Eller. Ufa! Está bom para você? Bem, na minha vida pessoal foi um ano de extremos. Perdi minha mãe e me casei.

Vou destrinchar algumas dessas histórias em outros posts. Hoje, quero falar do afundamento da P-36. A plataforma da Petrobras, orçada na época em R$ 500 milhões, teve uma explosão e matou 11 funcionários.

Durante o tempo em que houve a explosão e o naufrágio se concretizou, a imprensa acompanhava o grau de inclinação da plataforma como se fosse uma novela. Se o ângulo ficasse abaixo de 30 graus o naufrágio seria inevitável. Na segunda-feira, 19 de março, a plataforma chegou à inclinação crítica e fomos correndo para Macaé. Não tive tempo de passar em casa para pegar uma muda de roupa. Tive que ir rapidamente para a cidade no Norte Fluminense.

Chegando a Macaé, descobrimos que não havia mais vagas nos hotéis. Eu e o Vicente, motorista que correu comigo em diversas “aventuras”,  procuramos uma pensão para jogar o corpo.

Depois de algumas indicações, chegamos a um local saído de um filme de “velho Oeste”. Porta de madeira rangendo, quarto coletivo, piso de madeira com algumas ripas rachadas e dois beliches. Esse conforto todo  por módicos 10 reais.

A dona/recepcionista avisou que o pagamento era adiantado. Além disso, ela recomendou que dormíssemos abraçados com a mochila e não “déssemos bobeira”. Confesso, sou guerreiro, mas numa boa, achei a espelunca muito acima do meu nível de “guerreirice”.

Conversei com o Vicente e concordamos que era melhor dormir no carro, na frente do hotel onde repórteres de outros veículos de imprensa se hospedaram.

Sem muitas esperanças, tentei uma última cartada no hotel. Fiz minha melhor cara de “Gato de Botas” para a recepcionista do hotel melhorzinho. Minha amiga Carolina Morand diz ter  muita raiva dessa cara. Ela diz que é chantagem do mais baixo nível e quase infalível. De fato, funcionou novamente. Eu e o Vicente não ficamos ao relento.

No entanto, o local da hospedagem foi apenas um dos obstáculos. Para deixar mais emocionante o trabalho fiquei rouco. Sendo repórter de rádio, dá para avaliar o tamanho da minha encrenca.

Encontrei uma solução pouco ortodoxa, mas que funcionou. Antes, quase matei o Vicente de susto. Comprei Benalete sabor cereja. Tentando melhorar, dormi com a pastilha. Na manhã seguinte, ao acordar, meu travesseiro estava sujo de vermelho. Meu companheiro de quarto pensou que eu tinha sofrido algum sangramento.

Foi uma semana animada, com a jornada começando no Jornal da CBN, às 6h da manhã, e se encerrando no CBN Madrugada, por volta de meia-noite e meia.


Foi uma grande cobertura, em que os veículos fizeram um pool informal pra dar conta do volume de informações. Mesmo trabalhando nesse esquema, deu tempo para algumas gargalhadas,  uma cerveja no fim de expediente e para estreitar laços de amizade e companheirismo.

Essa cobertura foi especial para mim porque foi a última que a minha mãe acompanhou. Voltei de viagem numa quinta de noite, passei a sexta com ela e no domingo ela se foi.

Como há muito tempo não corro com os colegas, não sei se as grandes coberturas permanecem assim. Temos a tendência a achar que na nossa época era melhor. A gente esquece que na verdade temos saudade da nossa juventude.

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