terça-feira, 7 de novembro de 2017

Números e mais números





Durante 7 anos  minha vida foi uma preocupação com audiência. Até o dia 10 de cada mês saem os nervosos números da pesquisa Ibope. São números mágicos, parecem envoltos em mistérios insondáveis, que sobem e descem e você tenta entender os motivos.

Muitas pessoas não sabem como é a aferição de audiência no rádio. Vamos esquecer o imediatismo dos números da audiência na TV. Um programa televisivo estreia e você já tem informações de como foi a audiência, que horas o programa subiu, qual foi o horário da queda. Uma neurastenia que em tempos de guerra pela audiência faz até com que gente poderosa vá para switcher (a central de comando do que está no ar) definir se um quadro vai ser esticado ou cortado rapidamente.
No rádio o processo é literalmente do século passado. O Ibope faz uma pesquisa residencial.  Vai à casa dos entrevistados, entrega um disco com as emissoras disponíveis no dial. A pessoa responde que rádio ouviu e por quanto tempo. Agora eles perguntam também como ouviu, se foi no aparelho de rádio convencional, no celular, pelo site, etc.

A audiência sai depois de cálculos estatísticos. Duas métricas são levadas em conta: o alcance, ou seja, o número de pessoas que disseram ter ouvido a rádio, e o tempo médio, que é o tempo que os ouvintes permaneceram na emissora.
Vamos então falar de dois duelos que aconteciam na audiência no dial do Rio de Janeiro. O primeiro que acompanhei mais de perto Rádio Globo e Rádio Tupi. Nos cerca de 80 levantamentos de Ibope que acompanhei, a Rádio Globo superou a Tupi em alcance em mais de 80% dos meses. Isto quer dizer que na pesquisa teve mais gente que dizia ouvir a Globo do que a Tupi. Em compensação, não me lembro se em algum mês o tempo médio da Globo ultrapassou a Tupi, mas acho que não. As vezes que a Globo superou a Tupi em audiência nesses quase 7 anos (outubro de 2010 a Junho de 2017) venceu por conta do alcance.

O outro duelo é da Melodia e da FM O Dia. Assim como a Rádio Globo, a FM O Dia tinha muito mais alcance do que a Melodia. Algumas vezes 60% a mais de pessoas que diziam ter ouvido a emissora musical.  Então o que dava a vitória à Melodia? O tempo médio. Nessa métrica, a emissora evangélica alcança de cerca de 4 horas, isso mesmo a média é de 4 horas ouvindo a Melodia. Um ouvinte realmente fiel, com trocadilho, por favor.

Mas não acabaram as diferenças. Os relatórios do Ibope são uma média trimestral. Por exemplo, a pesquisa que deve sair essa semana é do trimestre Agosto/setembro/outubro. Essa metodologia fez com que uma vez ouvisse uma piada de um apresentador:  “Creso, no rádio tudo é só para depois de amanhã, as mudanças demoram a ser percebidas”.

Logo, mudar os rumos de um programa de rádio acaba sendo um processo empírico em que as respostas só aparecem num prazo médio. Qualquer julgamento sobre um programa, ou uma atração só poderão começar a ser esboçados com no mínimo 6 meses.

Diferentemente do que acontece com a televisão. Os números consolidados da primeira semana da novela O outro lado do paraíso apontam para a melhor primeira semana de uma novela das 21h desde Império, em 2014. No entanto, não sabemos se esses números vão continuar altos. Já começam a espocar nas redes sociais críticas ao conteúdo da novela. Temas tratados com crueza, contrastando com uma trilha sonora comparável a de Velho Chico e uma fotografia de fazer suspirar. Talvez os grupos de discussão levantem essas questões e Walcyr Carrasco, um autor que não joga para perder, faça as alterações. O exemplo mais rápido que me vem à mente é a mudança de personalidade Félix, de vilão hediondo a protagonista do primeiro beijo gay do horário nobre da TV Globo.

Acho que Sergio Guizé terá um grande desafio pela frente. Candinho ainda está muito presente na memória afetiva do público. A rejeição a Gael ainda está grande. Walcyr acena com uma mudança no rumo do personagem. Vamos ver, pois um dos clichês da teledramaturgia é novela é uma obra aberta.


O certo é que o imediatismo na resposta de audiência da televisão deixa os produtores menos no escuro do que no rádio. Num mundo em que a interatividade é mola mestra nos veículos de comunicação, receber um relatório trimestral parece anacrônico. 

No entanto, essa é a audiência que baliza o mercado de rádio. Os responsáveis pela programação tem que se guiar pelos números aferidos pelo Ibope.

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