domingo, 5 de novembro de 2017

Sem abusos, sem trapaças







É, diriam os chefs com vocabulário mais informal: “salgou” pro Kevin Spacey. A Netflix decidiu demiti-lo e não quer nenhuma participação em projetos que o ator estiver envolvido, cancelando, inclusive, uma produção sobre o escritor americano Gore Vidal, que estava em fase final. É, “salgou” pro Paolo Guerrero. O atacante do Flamengo e da seleção peruana vai pegar um gancho preventivo de 30 dias e se o resultado da contraprova der positivo, ficar fora da Copa do Mundo, numa eventual classificação peruana, seria o menor de seus problemas.

Citando Ana Carolina (sim, ícones pops não devem sofrer preconceito), em qual rua a vida de Guerrero encostou na de Kevin Spacey? Os dois são ídolos, presenças marcantes nos noticiários e ficaram com a reputação extremamente arranhada. Por algum circuito estranho em seus cérebros, os dois passaram limites que não deveriam transgredir.

Por favor, mais apressados, sei que a dimensão do que eles fizeram é completamente diferente. Kevin Spacey teve um comportamento abusivo reiteradas vezes. Como a vida é redonda, pode ser que algum pedido de desculpas pungente ou investigações inconclusivas impeçam o término da carreira do ator.

E, se fosse no Brasil? Será que as consequências seriam as mesmas? Na mesma época que “salgou” pro José Mayer, o empresário Silvio Santos disse que o ator deveria ser contratado pela Record. Sem querer passar uma ideia de vira-lata complexado, mas se nos EUA Kevin Spacey está indo pro "vinagre", por aqui, o dono de uma TV sugere a contratação de José Mayer para que ele continue a carreira como "prato principal".

No caso de Paolo Guerrero, poderíamos citar Lobão (agora ferrou, vou sofrer patrulhamento) “eu não posso causar mal nenhum, a não ser a mim mesmo”. A droga detectada na urina do atleta pode ser encontrada na cocaína e em alguns remédios. Não conheço o jogador, não sei das suas aventuras noturnas e por isso estou inclinado a aceitar a versão de que a substância foi ingerida por uso de medicamentos. Não interessa! Para o tribunal da sociedade da vigilância, a sentença já foi proferida. O jogador usou a droga. Os torcedores dos outros times já criaram memes brincando com a expressão “cheirinho”, usada pelos rubro-negros para dizer que um título está próximo. A propósito, esse tal de “cheirinho” dá um azar danado!

O que faz um profissional transgredir uma regra básica como essa? Se ele tomou remédio com substâncias proibidas, por qual motivo não avisou aos médicos do clube? Guerrero não é garoto, é rico e realizado no futebol. Acho que a citação ao Lobão ficou imprecisa. Guerrero fez mal a todo o povo peruano, apaixonado por futebol, que depois de mais de três décadas poderia voltar a uma Copa do Mundo. Fez mal à torcida do Flamengo que tinha nele uma referência na disputa do único título que o clube ainda pode ganhar na temporada.

Guerrero e Kevin Spacey se encontraram de novo no que pode ter motivado suas atitudes: a certeza da impunidade; no achar que o que faziam dizia respeito somente a eles. Mas na era da vigilância e do espetáculo a busca pela performance profissional perfeita, o hedonismo e a satisfação a qualquer custo cobram seu preço. Guerrero, o “drogado”, Kevin Spacey, o “abusador”. Os dois terão que conviver com seus demônios e tentar apagar esses rótulos. Vão ter que sobreviver a essa "fritura" em fogo alto.

 E que o drama dos dois sirva de lição para outros. Relações pessoais e o jogo da vida têm que ser limpos. Sem abusos, sem trapaças.

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