sábado, 11 de novembro de 2017

Mais matemática e menos advinhação






Pensar uma programação de rádio não segue uma lógica de pensar uma programação de TV. Os dois veículos são irmãos, mas diria que são mais Caim e Abel do que para Cosme Damião.

Coisas que servem a um podem ou não servir ao outro. Há pessoas oriundas da TV que arrebentam no rádio, assim como pessoas que oriundas do rádio fazem muito bem televisão. É necessário entender a manha do veículo que está em suas mãos.

Um exemplo clássico bem sucedido foi o de Ary Barroso. Narrador esportivo com todos os erres, ecos e prosódias inerentes ao rádio, soube ser contido quando passou a transmitir na televisão Ary Barroso televisivo não brigava com a imagem, não era palavroso.

O Rádio é o espetáculo do som, da palavra, a televisão é a primazia da imagem. O close da TV é a palavra amiga do Rádio. Os dois podem se juntar, mas tudo deve respeitar a característica da plataforma.

Em A cultura da convergência, Henry Jenkins afirma que um veículo não vai matar o outro, vai se adaptar e apresentar novas alternativas. Então, vamos superar essa etapa. A TV não vai matar o rádio, apesar daquela relação Caim e Abel a que me referi lá em cima.

Acredito firmemente que a forma de aferição da audiência no rádio privilegia a repetição em detrimento do rodízio, da falta de rotina. Na televisão, com o Ibope sendo medido minuto a minuto, as correções de rota são mais calculáveis. Existe a resposta na hora. No rádio, com a medição de audiência do século passado se privilegia a linha do tempo, a média.

As rádios deveriam pressionar o Ibope a fazer uma pesquisa mais ágil. O rádio, imediatista por excelência, só tem a perder com essa metodologia de audiência.

A Rádio Globo, por exemplo, mudou sua programação em junho. O primeiro resultado só com a nova programação foi no ibope de outubro. Logo, pela média, os gestores estão olhando para um quadro passado, que não representa mais o momento de audiência da rádio.

A mesma coisa vale para a Tupi. A emissora só teve o primeiro resultado com a nova manhã em setembro. Pois nos boletins de audiência anteriores ainda havia a “contaminação” com os números da grade antiga.

A CBN trocou o apresentador do CBN Rio no final de outubro. Sabe quando a rádio vai ter o primeiro retorno do resultado com os novos apresentadores? No Ibope que sair na primeira semana de fevereiro!!!

E vai o rádio nessa caminhada paradoxal, um veículo da simultaneidade, feito ao vivo, mas que só sabe o resultado do que está fazendo hoje daqui a três meses. Ao passo que a televisão tem produções caras e gravadas, mas com uma aferição de resultados imediata. Como resultado disso consegue corrigir seus produtos de forma mais rápida.

Então se dá o “drama” das rádios hoje em dia. Acontece uma greve de ônibus na cidade. As emissoras jornalísticas como CBN e Bandnews têm a “prerrogativa” com seus ouvinte de mudar a programação ao sabor das necessidades do cotidiano.

Agora vá você tirar um programa tradicional do ar numa emissora como a Tupi, por exemplo, para transmitir a sucessão do Papa ou a invasão do Alemão. Os ouvintes vão reclamar. E a audiência daquele dia que você mudou tudo vai ter ser anulada pela média dos outros 89 dias do trimestre.

Rádio é hábito por uma característica do veículo, ou porque as pessoas responsáveis pela programação radiofônica não sabem de imediato o retorno de audiência daquela decisão?


O pior de tudo é que o Ibope e sua pesquisa anacrônica balizam as operações de compra e venda de comerciais das emissoras. Resultado, é melhor o conservadorismo e a mediocridade. Aproveitando os 100 anos da Revolução Russa, vamos recorrer à utopia advinda dela. Emissoras, uni-vos para que o Ibope faça uma pesquisa mais condizente com a realidade frenética que nossos tempos exigem.

2 comentários: