quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Corporativismo da boçalidade








Acho nobre quando existem vozes dissonantes aos coros uníssonos. Mostram o quão complexa é a humanidade em sua convivência. Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes e Luis Nassif, três dos marechais da guerra diária na caça de notícias, saíram em defesa de Willian Waack.

Alguns diriam que é um ato de coragem os três declararem seu apoio ao amigo que conhecem há mais de 40 anos. No entanto, é impossível dissociar o elemento corporativista nos argumentos. Na defesa de Waack, citam seu saber, sua competência, seu rigor intelectual...

O que chama atenção é que nada disso está posto em xeque no episódio. Há outras questões bem mais profundas no comentário do jornalista da TV Globo. Competente, Willian Waack é, se não fosse, não estaria apresentando um noticiário com a importância do Jornal da Globo.

Um dos "advogados" chega a dizer que o episódio é “uma série de frases desimportantes”. Não é aceitável que se refira a algo desagradável como “coisa de preto”. Essa expressão é prima-irmã dos “negros de alma branca” para se referir a um negro que se destaca, e ao uso do verbo denegrir, para se referir a algo que está se deteriorando. São pensamentos terrivelmente naturalizados.

Uma amiga me disse a expressão que se encaixa como uma luva no ato de defender o indefensável: corporativismo da boçalidade. É por causa dos relativismos e eufemismos, que perdoamos coisas que não deveríamos desculpar.


A gente faz jornalismo com o que tem dentro da gente, se somos racistas, isso vai ser  espelhado no que produzimos. Um dos defensores chega a dizer: “Willian Waack não é racista”. Sim, mas sua frase mostra que ele acha “que não tem problema” fazer uma injúria racial de “brincadeira”. Ah, mas o Waack estava “brincando” e não estava no ar.


Então meus caros marechais da notícia, os tempos mudaram. Brincadeiras racistas não são mais toleradas, atitudes abusivas serão denunciadas.  Esqueletos saem dos armários. As minorias são ruidosas. Acostumem-se a isso.


Os sócios do clube não são inatingíveis, estamos na era da vigilância, se por um lado pode parecer opressora, serve para revelar a verdadeira face das pessoas. Defendo liberdade de pensamento sempre, mas é necessário assumir as responsabilidades que os desvãos desses pensamentos podem trazer.

Waack é brilhante, culto, experiente, está no Olimpo do jornalismo, mas é um anjo caído. Despencou pela arrogância de achar que as asas não derreteriam por mais perto do sol que chegasse. Soberano, achou que poderia falar o que quisesse com quem quisesse. Caiu pelo “fogo amigo” disparado por alguém em quem, provavelmente, despejou sua prepotência e arrogância.



Então, marechais, suas casacas corporativas estão corroídas. Estamos em novos tempos. Não tenho categoria para citar Antonio Gramsci ou Karl Marx. Vou de outro Antonio, no caso Antoine de Saint-Exupéry, que escreveu em o Pequeno Príncipe: “és responsável por aquilo que cativas”. A sociedade da vigilância reescreveu a sentença pueril usada nos anacrônicos concursos de miss. Agora a lógica que vale é esta: és  responsável por aquilo que expressas. No popular: “ajoelhou Waack, tem que rezar”.

3 comentários:

  1. Creso Brilhante seu post.

    Sobre os jornalistas citados Reinaldo Azevedo (Não li e não vou buscar a informação porque não o vejo como jornalista e sim um porta Voz de um lado) e Luis Nassif vou buscar a opinião dele. Quanto ao Augusto Nunes cabe uma menção especial a fissura conta o Lula e o PT, diante da situação ele conseguiu lincar a situação ao Lula, sobre o jornalista, deixei de ver o programa Roda Viva pelo comportamento enviesado do "jornalista".

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  2. Não estava sabendo do ocorrido. O texto é bem elucidativo.

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