segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Reengenharia da vida







Na minha careira fui chefiado em apenas uma oportunidade por alguém mais jovem do que eu. Uma pessoa excepcional, tínhamos  praticamente o mesmo tempo de experiência. Houve um processo sucessório, como chefia é cargo de confiança, a pessoa que decidia quem teria o cargo escolheu-a. Ela tinha todos os méritos. Foi fácil ser chefiado por ela, que além de minha amiga antes, era uma pessoa competente, justa e organizada.

Ouvi de um amigo uma vez: “Creso, essa profissão é para jovens”. Concordo, mas não exatamente no sentido etário, mas sim no que você traz na alma.
Jornalismo é uma profissão para “jovens” porque deve ter um caráter questionador, inovador e inconformado. E isso tem menos a ver com idade do que com entrega e espírito. Vou tomar a liberdade de reformular a frase do meu amigo, jornalismo é uma profissão para quem tem um espírito jovem.

E por falar em juventude, Lauro Jardim revelou em sua coluna do Globo que tem aumentado a idade média dos trabalhadores demitidos nas empresas. O levantamento é de 2007 a 2017, no entanto de 2014 pra cá o número só faz aumentar. Parece ser uma resposta do mercado de trabalho aos mais velhos, pois o custo de mantê-los é mais alto.

Hoje a média de idade de alguém contratado é de aproximadamente 33 anos. E a dos demitidos está por volta dos 36 anos. Desconfio, mas não sou estatístico, que esses números podem criar uma grande crise social. Se a reforma da Previdência andar no Congresso, a aposentadoria vai acontecer mais tarde. A continuar essa curva, teremos mais pessoas desempregadas por mais tempo.

Uma das soluções para isso é o empreendedorismo e as relações mais flexíveis no mercado de trabalho dizem os que defendem as reformas. Haja ideias para que uma massa de pessoas sem emprego consiga ser empreendedor. A “mão invisível” do mercado está fazendo assim: a partir de uma determinada idade o funcionário não fica mais. Ele é mais caro e não se adapta à “reengenharia” pela qual a empresa passará.

“Quem não tem competência, não se estabelece”, dizem os cínicos. As empresas não buscam equilíbrio entre os mais velhos e mais novos. Elas querem o que os administradores chamam de “última linha” da planilha. Lucro é o Deus de nossos dias. É o tal “se estabelece”.

Em muitas oportunidades alguns erros de avaliação são cometidos pela “falta de cabelos brancos” nas empresas. Ótimos em números, planilhas e vocabulário em inglês, muitos desses novos gestores pecam por desprezar o que já foi feito. Numa armadilha do destino, acabam refazendo a trilha do erro, simplesmente porque não sabiam que aquela estrada já havia dado em nada antes. E nisso, a “reengenharia” acaba sendo um “museu de grandes novidades” (estou numa fase de citar cantores, agora foi Cazuza).

Cinicamente falando, a verdade é que quando seu chefe é mais novo do que você, prepare-se: “a porta da rua é a serventia da casa”. Comece a pensar por qual “reengenharia” sua vida vai passar, porque a da empresa que você trabalha já começou.


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