domingo, 12 de novembro de 2017

O dia que Garotinho me chamou de gordinho







No domingo passado fui brindado com um vídeo do clã Garotinho numa praia. Estavam o patriarca, a matriarca, a filha deputada e outras pessoas que não reconheci. Nessas idas e vindas da justiça, entre uma crise hipertensiva aqui é uma greve de fome acolá, fiquei na dúvida se ele estava cumprindo prisão domiciliar. Fui informado por amigos mais antenados que já estava liberado.

No mesmo dia ao ler a coluna do Lauro Jardim, vi que Sérgio Cabral puxou uma salva de palmas para Carlos Arthur Nuzman no momento que o ex-presidente do COB chegou para sua estadia no xilindró dos poderosos.

Talvez a gente consiga entender a tragédia do Rio lendo esses dois parágrafos. Dezesseis anos de inquilinato do Palácio Guanabara estão citados. É bom que se diga, Cabral e Garotinho eram aliados, como diria Fabio Jr. “carne unha, almas gêmeas, dois amantes, dois irmãos”.

Garotinho foi para o limbo porque na hora do divórcio, os amigos (Jorge Picciani, Paulo Mello, Moreira Franco...) ficaram com Cabral.

No entanto, devemos a Anthony Garotinho um imenso favor. Foi no blog dele que o mundo soube do nababesco jantar em Paris em que a corte cabralina se  esbaldava com guardanapos na cabeça. Toda a grana retirada dos nossos bolsos.

Não sabemos quem vai rir por último nessa briga. No momento Garotinho e a família se refestelando numa praia levam a melhor. Os banhos de sol de Sérgio Cabral são mais controlados, pelo menos deveriam ser.

Tenho algumas histórias engraçadas da época em que a República do Chuvisco ocupava o Palácio Guanabara. Vou contar algumas ao longo deste blog. Como é domingo, resolvi contar uma de nonsense explícito, ou “semnoçãozice’ do ex-governador e sempre radialista.

A exemplo do que acontece hoje, Anthony Garotinho tinha um programa na Rádio Tupi. Na época atração se chamava Fala, governador. Todo sábado era batata, todos os jornalistas que cobriam a administração estadual tinham que bater ponto na rádio Tupi, para repercutir as ações e anúncios que ele fazia no programa.

Garotinho dizia as próximas medidas de sua administração, dava bronca em secretários e presidentes de autarquias. Devido à sabida ineficiência nos serviços, o presidente da Cedae quase sempre ficava com a “orelha quente”.

Gostaria de lembrar que antes de me tornar um respeitável pai de família, fui jovem e saía nas noites de sexta. Não raro, ia trabalhar aos sábados com a mesma roupa da night anterior, já que na juventude era desnecessário dormir. Alerta de Spoiler: depois dos 40 você vive com sono.

De tanto fazer pauta com Garotinho, acabamos construindo um relacionamento cordial. Seria demais dizer amizade, mas não nos dávamos mal.

Eis que num desses sábados, eu com aquela expressão insone fui cobrir o governador. Quando nos dirigíamos ao local em que seríamos atendidos, Garotinho se vira para mim e procurando a anuência em alguma frase falou: “não é isso, gordinho”.

Fiquei incrédulo, parecia que algum lugar do meu cérebro estava me pregando uma peça e ignorei a menção a minha silhueta.

Ao chegarmos para a entrevista, o governador foi mais assertivo, olhou para mim e não deixou dúvidas que estava se referindo a mim: “não é isso, gordinho”?

Minha querida amiga Carla Rodrigues diz que tenho mania de enfiar o dedo na tomada. Ou seja, de ir para o embate nesses confrontos que vez ou outra a vida coloca na nossa frente. Estava acuado, na frente dos outros jornalistas fui jogado nas cordas. É parceiro, Ave Capitão Nascimento, quando você está nas cordas só tem duas opções: ou esmorece  e espera o juiz interromper a luta ou reage.

Escolhi a segunda: “Governador, me desculpe, mas o senhor não é a pessoa mais indicada para me chamar de gordinho”. Talvez surpreendido pela minha resposta, Garotinho emendou meio sem jeito: “é, eu sei também tenho que emagrecer”. E aí eu completei: “então o senhor fica com a sua gordura e eu fico com minha”. Rimos  a entrevista começou.

Honestamente, não consigo imaginar essa conversa com Sérgio Cabral. Acho que no fundo lidar com Garotinho era mais divertido. Ou eu era mais jovem e tinha mais paciência.

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