quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Bandidos de facções diferentes não podem ficar na mesma ala do presídio






O Rio vive num estágio tão absurdo, que Anthony Garotinho e Sérgio Cabral não podem ficar na mesma ala no presídio de Benfica, porque os dois são inimigos. As facções de colarinho branco precisam ser separadas como as facções do tráfico de drogas. A fome de poder que criou identidade entre eles os levou a fazer parte da triste estatística dos ocupantes do Palácio Guanabara.

A verdade é que ao falarmos de governadores eleitos desde 1982 no Rio de Janeiro, quando as eleições para os governos estaduais foram restabelecidas, encontramos três situações: ou estão mortos, ou presos, ou denunciados por suspeita de corrupção. Nilo Batista e Benedita da Silva não foram eleitos, eram vices que assumiram na saída dos titulares, por isso não entram na conta.

Isso pode explicar o tamanho de nossa tragédia. Garotinho é um comunicador excepcional e jogou a credibilidade no lixo por seu projeto de poder. Hoje é inimigo íntimo de Cabral, mas a prática mostra que é apenas o sujo falando do mal lavado.

A prisão de Regis Fichtner nos faz ver que a chefia da Casa Civil no governo Cabral era codinome de gerência do tráfico de influência e de crimes. A farra do guardanapo também nos lembra que cada regime tem o “Baile da Ilha Fiscal” que merece.

Vou entrar numa cápsula do tempo e voltar 15 anos. Anthony Garotinho estava com uma popularidade acima de 60% e estava prestes a deixar o Palácio Guanabara para se aventurar numa campanha presidencial.

Depois de uma discussão pelos jornais com o então prefeito Jorge Roberto Silveira, ele inaugurou um restaurante popular em frente à estação das barcas em Niterói.

Esse dia foi típico daquele governo. A fila se formara às 5 da manhã para a abertura que que só aconteceria às 11 da manhã.

O empurra-empurra na fila com as portas ainda fechadas dava o roteiro de uma festa que não iria acabar bem. No primeiro lugar da fila uma senhora, moradora de São Gonçalo.

Quando a porta abriu, o estouro da boiada começou. A senhora que estava em primeiro lugar na fila passou mal e quase não conseguiu entrar.

Os repórteres quase ficam pelo caminho. Eu, que não tenho o corpo propriamente delgado, só entrei com uma força-tarefa de policiais militares me puxando pelos braços. Uma desorganização completa. Uma colega que trabalhava no velho JB entrou, mas quando viu sua blusa estava levantada e o sutiã à mostra.

No lugar cabiam 400 pessoas, mas a confusão formada por puxa-sacos, políticos, eleitores e jornalistas dava a impressão que havia pelo menos o dobro de gente.

Lembro-me de que para chegar perto de Garotinho e entrevistá-lo fiquei sentado na mesa (isso mesmo na mesa e não à mesa) em que ele estava. E quase que num exercício de contorcionismo coloquei o gravador em sua direção sem saber se o som era captado.

Quando fui entrar no ar, coloquei o telefone para captar o som ambiente e fazer para os ouvintes o “cenário sonoro” da balbúrdia e da desorganização do momento.

Em 15 anos Garotinho conseguiu destruir o capital político angariado. Em 2002, elegeu a mulher em primeiro turno para o governo do Rio e ganhou cacife político ao ficar em 3º lugar na disputa presidencial.

Tudo começou a ruir quando ele saiu do PSB e foi para o PMDB. Achou que iria conseguir o que Ulisses Guimarães e Orestes Quércia não conseguiram. Unificar esse saco de gatos partidário para ser o candidato à presidência. Desgastado, rachou com Cabral e perdeu o poder.

Vive numa espécie de limbo. É um eleitor importante porque ainda tem muito voto, aquela gente que ainda se lembra do cheque-cidadão e do restaurante popular. Ao mesmo tempo, seu apoio explícito é tóxico, quem recebe diz que não recebeu, vide o prefeito Marcelo Crivella.

O fato é que aquela mulher que estava no primeiro lugar ma fila do restaurante popular de Niterói, se estiver viva, sentiu a vida piorar muito. O Rio era rico, mas a ganância dos ladrões é imensa e conseguiu quebrar o estado.

Nos resta apelar para santos bem populares, livres de liturgias. Salve São Moacyr Luz, que seu canto nos traga esperança:  “Brasil, tira as flechas do peito do meu padroeiro, que São Sebastião do Rio de Janeiro ao da pode se salvar”. Tomara!

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