sábado, 19 de maio de 2018

A fanfarronice perigosa de homenagear a policial que matou o assaltante

Dia desses escrevi que olhar o mundo de forma binária, faz com que a gente não consiga vislumbrar toda a paleta de cores da situação. 

O caso dessa policial que há uma semana matou um assaltante na Grande São Paulo é uma dessas histórias em que o olhar radical sobre o fato, nos faz tirar conclusões precipitadas. 

Acredito que antes de matar, a polícia deve imobilizar e prender o suspeito. Atirar antes e perguntar depois é má prática e resulta em mais violência. No caso de Suzano, a policial paulista agiu rápido e impediu que um assaltante invadisse a escola da filha e fizesse reféns. 

A atitude da policial foi fruto de treinamento, pois segundo reportagem da revista Época, alguns integrantes de seu batalhão fizeram um treinamento em caso de necessidade de intervir quando estivessem à paisana. 

No entanto, câmeras descobriram que o bandido agia em parceria com outro, que para sorte de todos, não retaliou a abordagem da PM. Contar com a sorte não é de bom alvitre em questões que envolvem armas e balas. 

Outro problema foi a carona no discurso da ordem que o governador de São Paulo tomou após o episódio. Homenagear a policial era absolutamente desnecessário. Incentiva como regra algo que deveria ser a exceção, policiais matarem suspeitos. 

Não existe solução mágica para a questão da segurança pública. No Rio dos anos 1990, havia a “gratificação faroeste”. Entre 1995 e 1998 o governador Marcello Alencar instituiu uma bonificação na ação de policiais civis e militares. Durante a vigência do decreto, o número de suspeitos feridos em confrontos para a polícia subiu de uma média de 2 para 4 por ação, ou seja dobrou. Bem, a violência só cresceu no período. 

Logo, Márcio França deveria aprender com os erros do passado. Homenagear a policial de forma demagógica e marqueteira incentiva condutas semelhantes e pode provocar o efeito “gratificação faroeste” na polícia de São Paulo. 

Já temos a polícia que mais mata. É bom lembrar que o estado é responsável por todos, inclusive pelos presos custodiados. Uma opção a isto é a barbárie. 

E nesse discurso de ódio e de justiça com as próprias mãos, fazemos crescer ideias como porte de armas universal e pena de morte. Quanto ao primeiro, os exemplos vindos dos EUA nos mostram que é ineficaz. A pena capital é um dos sintomas da perda da fé na recuperação do ser humano é uma crença na infalibilidade dos processos judiciais não recomendável. 

Heróis que tudo salvam, protegendo inocentes e destruindo “os caras maus” só existem nas franquias cinematográficas.  Sem planejamento, os tiros da polícia ensejam uma cacofonia de violência em que a próxima bala pode atingir qualquer um. 



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