segunda-feira, 14 de maio de 2018

A suspensão de Guerrero me importa mais do que a contusão de Daniel Alves

Talvez a unanimidade em torno do Tite tenha deixado passar um detalhe. Na maioria das posições em que havia dúvidas, ele convocou jogadores que atuaram com ele em clubes. Cássio, Fagner e Taison são os símbolos desta decisão. 

Um repórter, não me lembro de que veículo, fez essa pergunta timidamente. Tite respondeu que esse fator não entrou conscientemente na escolha, mas pode ter influenciado. Nas últimas 5 copas, será a quarta vez que a seleção brasileira será comandada por gaúchos. Felipão em 2002 e 2014, Dunga em 2010 e Tite em 2018. 

A verdade é que existe a Família Tite. O atual treinador é mais acessível do que seus dois conterrâneos que ocuparam o cargo. Esse traço de proximidade com os jogadores que treinou nos clubes confere o caráter “família” ao qual me referi no início do parágrafo. 

Acho que Tite passou por um curso de
oratória. Antes seu vocabulário era quase hermético, agora responde às perguntas como um líder carismático. Espero que seu discurso e controle do grupo resultem em futebol bem jogado. 

O certo é que o time da CBF depende da forma de Neymar. Pode ser que aconteça com ele o que houve com Ronaldo e Rivaldo em 2002. Tiveram uma temporada atrapalhada por contusões, mas chegaram voando no Mundial. O reverso da medalha é Romário, em 1990, quando se machucou e não esteve bem na Copa da Itália. 

O Brasil tem um time mais equilibrado e menos instável emocionalmente falando do que em 2014. Não participarei de bolões esse ano, mas se o fizesse apostaria na Espanha. Acho que a França e a Alemanha também estão num estágio melhor do que o Brasil. 

O que me impressiona é a falta de empolgação com a Copa. Acho que o álbum do mundial empolga mais do que o torneio. E a culpa por isso é esse futebol globalizado. 

A seleção “brasileira” tem três jogadores que atuam no país. E vou ser honesto. No dia em que a seleção brasileira é convocada, para mim a notícia mais importante no futebol é sobre um peruano. 

Paolo Guerrero pegará mais 8 meses de gancho e praticamente encerrou seu ciclo no Flamengo. Sei que nesse momento serei mandado para o inferno dos torcedores, mas vamos lá: a suspensão do Guerrero mexe muito mais com as minhas emoções do que a contusão e o posterior corte do Daniel Alves. O lateral-direito não tem nenhuma identificação com o Flamengo. 

Desculpe se não uso a primeira pessoa para falar do time de Tite. Não me sinto identificado e acho que o negócio futebol enterrou essa falácia de pátria de chuteiras há algum tempo. Torcedores de Corinthians e Grêmio tem razões, poucas é verdade, para torcer pela equipe da CBF. 

Prefiro o título da Libertadores para o Flamengo do que a Copa do Mundo para o Brasil. A apropriação da alma do time canarinho perpetrada há muitos anos me causou esse distanciamento. 

Participarei das efemérides em dias de jogo, torcerei, se for campeão vibrarei, se perder, vou tratar da vida. A minha cruzada futebolística agora é para que o Dourado acerte o pé, pois é com ele que o Flamengo vai contar. 

Neymar, Paulinho e Jesus vou continuar vendo pela TV nos jogos europeus e na chuva de comerciais que estrelam. 

A CBF não faz nada pelo futebol brasileiro. Organiza um calendário entulhado, nada em dinheiro e deixa os clubes à míngua, cuida de uma arbitragem medonha e não impõe o uso do árbitro de vídeo. A seleção é o time da CBF, não é o Brasil, não é a pátria de chuteiras. 


Gosto do Tite, espero que ele tenha sucesso, não torcerei contra, só não contém com a minha adesão cega a um projeto político-econômico que se mostrou nocivo dentro e fora de campo. O 7 X 1 está aí para provar. 

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