sexta-feira, 25 de maio de 2018

Greve dos caminhoneiros ou “feliz 1988”

Se o Barão de Mauá tivesse sido tratado como um herói e não como uma ameaça ao poder dos donos de terra, talvez enfrentássemos com mais galhardia a crise de desabastecimento de agora. Mauá pensou num país com ferrovias, mas perdeu a disputa política. 

Mais de 150 anos depois constatamos ser totalmente dependentes dos caminhoneiros. Essa mobilização nas rodovias poderia ser celebrada como grande ação dos trabalhadores, no entanto, o movimento tem contorno de ter sido armado pelos patrões, ou seja, coisa do andar de cima para pressionar outra facção do andar de cima. 

E a cizânia dos setores que dominam o dinheiro do país causou fissura em toda a sociedade. O salto do preço do saco de batata na Ceasa do Rio de R$ 75 para R$ 500 é criminoso. Ah, mas é a lei da oferta e da procura, dirão os mais cínicos. Então, ótimo, como somos todos fiéis ao Deus Mercado, estamos sujeitos a essa “normalidade” de 600% de aumento na batata. 

Antes que me chamem de pelego e governista, a greve também pode ser encarada como um jeito de pressionar este governo que aumenta impostos e não pensa em equilibrar despesas cortando onde poderia cortar. Um arrocho nos trabalhadores, nos aposentados, na classe média em geral. Burocracia, papéis, impostos, corrupção e transparência zero. Essa insensibilidade e adoração ao Deus Mercado só poderia trazer consequências como essas. 

O Palácio do Planalto chamou o movimento dos caminhoneiros de chantagem. No entanto, as consequências desta reforma que deixou precárias as relações de trabalho foi terrorismo. A maior prova disso é que o número de desempregados só aumenta.  

Então, é uma guerra de facções do poder, e tal qual qualquer guerra de facção, o cidadão comum paga a conta. Paga, literalmente a conta, a propósito. Gasolina a 6 reais, filas nos postos e gêneros alimentícios rareando nos supermercados. 

Que os caminhoneiros sejam atendidos nas reivindicações que forem justas. Que acabem logo as diferenças entre o governo e os patrões, porque quem está na fila sem saber se vai conseguir abastecer o carro sou eu, meu vizinho ou seja, o país inteiro, refém dos tiroteios entre eles. 

Havia uma piada na década de 60 sobre os seguidos recuos do PCB. A piada era que tendo em vista que a terra era redonda,  o partido recuava tanto para surpreender os adversários por trás, numa ironia quanto a incapacidade de enfrentamento do partidão. Aqui não vou fazer revisionismo histórico, quero pegar o mote do recuo, do retrocesso. O país está prestes a dizer “Feliz 1988, fila nos postos, medo de desabastecimento de comida e aumento abusivo nos preços”. O jeito é rir amargamente com o meme da internet que mostra um galão de gasolina e os dizeres: “troco por casa de praia em Búzios, tratar inbox”. Se isso não significa voltar 30 anos em 2, não sei o que pode significar. 

3 comentários: