terça-feira, 15 de maio de 2018

A primeira semana depois do infarto

Aos poucos, tudo começa a voltar ao normal. Quando cheguei em casa depois de quase uma semana no hospital fui a cada um dos cômodos. Quis sentir a sensação de voltar. 

Em determinado momento pensei que não pisaria de novo neste chão. Depois, a dor foi passando, os médicos me tranquilizando e a ida para casa virou questão de tempo. 

Como escrevi, as coisas vão voltando ao normal. Eu e Pedro já começamos a discutir as finais do basquete na NBA. Parece que os Warriors devem garantir a vaga na final. Já o Cleveland vai precisar que o LeBron James tire coelhos da cartola. 

A Clara me fez colocar Águas de Março e apresentou a prévia da coreografia que ensaia para um espetáculo no meio do ano. 

Sua intensidade, graciosidade e paixão pelo que faz é tão distante dos tons pastéis que predominavam no quarto do hospital, que faz parecer terem sido em outra vida os eventos cardíacos da última semana. 

As marcas de agulha nos meus braços e o pequeno edema no pulso esquerdo me lembram do que tive. Gostaria de reiterar a solidariedade vinda de todos os lugares. Foi tanta gente, que se eu fosse nominar quem se manifestou, o texto só teria nomes de pessoas. 

Já comecei a pensar em mais coisas do que nos remédios e medos provocados pelo infarto da semana passada. Percebi que pare escrever terei que me readaptar. Como o stent foi introduzido pelo meu braço direito, dói um pouco o movimento com o pulso. Isso vai deixar mais difícil corrigir 78 provas e trabalhos dos alunos. 

Agora tudo está com sabor de novidade. Tenho que levantar da poltrona mais devagar para não ficar tonto. Fiz uma planilha para não esquecer ou confundir os remédios. Constato com ironia que me tornei um cardíaco. Logo, vou aprender a conviver com os remédios. 

Numa boa, estou começando a curtir essa fase de recomeçar. Estou encarando esse período pós-infarto como a chegada a uma escola nova, ou o começo num emprego novo. É uma folha em branco, em que posso escrever a história que eu quiser. 

Vou desconstruir um modo de vida sedentário. A alternativa a isso não me parece atraente. 

Aos poucos as coisas voltam ao lugar. Aulas pra dar, artigos para ler e para produzir. Amigos para encontrar e família para amar e cuidar. 

Só estou com um pouco receoso de me tornar aquele amigo mala, com um ar messiânico, pregando os benefícios de fazer uma opção de vida saudável. 


Vou fazer o que é melhor para mim. Se isso de alguma forma inspirar alguém, legal. Se não modificar o jeito de outra pessoa levar a vida, legal também. Os sapatos se moldam ao dono do caminhar. No meu caso, os pés estavam inchados e o caminho quase acaba. Preciso de sapatos novos. 

3 comentários:

  1. Parabéns, meu amigo, por esse recomeço, que por si só já é uma grande vitória. Um dia de cada vez, você conquistará uma qualidade de vida excelente. Grande abraço

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  2. Que bom que está tudo bem agora!Aproveite a nova chance para se reinventar. A mudança de hábitos só traz benefícios, que não são os do cartão de crédito, mas não tem preço!

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  3. "Vou desconstruir um modo de vida sedentário. A alternativa a isso não me parece atraente."
    Vai por mim, companheiro: é bem melhor do que parece. E vale (muito) a pena.
    Abração! :-)

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