domingo, 27 de maio de 2018

Os caminhoneiros e o “ex-presidente em exercício “

O mais preocupante na crise provocada pela greve dos caminhoneiros foi o sintoma de insubordinação das Forças Armadas. O fato de fontes vazarem que Marinha, Exército e Aeronáutica não aprovaram as medidas do governo Temer planta no cerne da administração a desmoralização. 

Temer está se especializando em ser um “ex-presidente em exercício”. Um espírito que vaga por Brasília colecionando derrotas econômicas, políticas e morais. O povo nem tem a chance de se esquecer que ele está às voltas com a prisão de vários amigos, ou das relações pouco ortodoxas que sua filha tem com pessoas acusadas de corrupção. 

Agora os caminhoneiros “sambam na cara” do governo. A categoria não reconhece o acordo e continua a ocupar estradas. Temer quer brandir tanques e metralhadoras, mas não encontra respaldo na Câmara, no Senado e nas próprias Forças Armadas. 

O governo tenta um contra-ataque. Insiste que os patrões estão por trás do movimento e que já há até pedido de prisão por causa do lockout. No entanto, não apresenta nomes. Só a palavra do governo não é o suficiente, já que este governo se mostra com tão pouca credibilidade. 

Não tenho rigor de um historiador, mas nos últimos 30 anos não houve crise política do porte da que está acontecendo. E olha, que nesse período, dois presidentes sofreram impeachment. Temer consegue fazer um final de gestão mais débil do que foi o de José Sarney. 

A dependência do transporte rodoviário é mais um elemento do 7x1 diário que a população brasileira sofre. Essa concentração um dia mostraria-se perigosa. Os caminhoneiros têm um poder que não há governo que consiga deter. Ao parar o Brasil, foi como se criassem um entupimento nas artérias de um país cardíaco na área de logística. 

Se o governo não atender os pedidos, os caminhoneiros vão engrossar. Aí, não haverá, stent, safena ou marca-passo que possa dar jeito. A questão é que tanto poder na mão de uma categoria pode acarretar em atos de tirania. É necessário algum tipo de regulamentação para que o movimento de greve, algo legítimo nas democracias, não descambe para um ato de chantagem econômica. 

E desculpem a falta de romantismo. Um movimento deste tamanho, com tanta abrangência não parece ser coisa dos trabalhadores. Parece ser mesmo uma ação dos empresários do setor. 

A vida ensina que quando você precisa dizer “quem manda aqui sou eu”, já não manda em coisa alguma. De nada adiantará dizer que vai usar as forças armadas, que aplicará multas diárias, se não cumprir as ameaças. O problema de falar “alto” é o ponto sem volta que isso pode representar. 

Conheço alguns militares da ativa e da reserva. O discurso de que está tudo uma bagunça é óbvio e recorrente em alguns grupos de discussão deles nas redes sociais e círculos privados. A questão é que o desgaste causado aos militares pela a ação de 1964 está presente nas novas gerações. Apesar da indignação, não parece haver um discurso uníssono por uma intervenção militar. Se você ler o noticiário com calma, percebe que os maiores focos de descontentamento estão no Exército. Tanto é que os nomes que vocalizam a revolta são ligados a ele. Jair Bolsonaro, capitão da reserva, e Hamilton Mourão, general da reserva. 

Enquanto as declarações vierem de militares da reserva, a ideia de intervenção militar fica no campo do devaneio arbitrário de alguns. O problema começa, quando o descontentamento latente pelo uso político das Forças Armadas  transbordar nos quartéis. 

Aí mora o perigo da reprovação dos militares ao fato do Governo Federal usar o Exercito para resolver algo que a negociação pacífica é o melhor caminho. Quando você senta numa mesa para negociar com uma metralhadora pendurada no braço e um tanque no estacionamento, não é negociação é coação. 

De tanto chamar os militares para resolver algo que a sociedade civil e os políticos deveriam dar conta que nasceu 1964. Mais de 50 anos depois parece que os políticos não aprenderam a lição. 






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