quarta-feira, 30 de maio de 2018

Oração de aniversário

Aniversário tem pequenos rituais. De uns anos para cá, o meu começa com um bolinho. Minha filha Clara Maria entra no quarto e puxa “Parabéns pra Você” antes do dia clarear. Seguem-se os gostosos abraços dela, da minha mulher e do Pedro. Dentre os rituais, acho que o principal é agradecer pela data, pelo fim de um ciclo para recomeço de outro. O blog me dá a chance de fazer este agradecimento, como diria Noel Rosa, em  “feitio de oração. 

Que o lirismo me tome pelas mãos e ajude a transformar toda dor que eu encontrar pelo caminho. E que no meio da dor eu me lembre que ela vai passar. Que a dor só dure o tempo que eu aguentar, um tempo suficiente para que eu dê valor ao prazer. 

Que o prazer não seja efêmero, que depois de chegar ao ápice eu consiga prolongá-lo. Que eu sorva o vinho da vida, sem pensar na próxima taça. Curtindo aos poucos o sabor da bebida. 

Que eu enfrente o medo inevitável, mas que ele não seja forte a ponto de me deter. Que o medo seja combustível para mudanças necessárias. E que eu jamais esqueça o medo. Pois a memória dele impede a repetição de erros. 

Que eu acerte mais do que erre, ou que pelo menos consiga empatar esse jogo tão difícil. Que eu consiga ser mais resiliente do que teimoso. E que eu entenda a fronteira da teimosia e da resiliência. 

Que eu veja do mundo as coisas boas, e que as ruins não adoeçam minha alma, mas reforcem em mim convicções do que é justo e sobre as brigas que eu devo comprar. 

Que eu não sufoque os meus com amores obsessivos, mas que não os deixe partir por causa do meu egoísmo. Que eu respeite os espaços e me meta apenas o necessário em outras vidas. 

Que eu tenha a consciência que a minha história começou antes de mim e vai continuar depois que eu fechar os olhos de vez. Porque ela vai ficar impressa na alma de quem me abraçou, beijou e compartilhou aventuras. Assim como ficaram em mim as marcas de quem me amou e aqui já não está mais. 

Olhares trocados, palavras ditas e sorrisos compartilhados servem para a estampa do tecido da vida. As lágrimas, mágoas e tristezas também estão lá. Muitas vezes como a linha que prende os desenhos. Que eu consiga fazer que a costura, mesmo que aparente, não diminua a beleza da colcha. 

E que ainda tenha muitos dias como o de hoje. Há pouco mais de 20 dias achei que não estaria por aqui para escrever essa oração. Mas como ainda não era a hora do ponto final, vou continuar a busca pelas melhores palavras do romance. 

Romance sem propostas pre-concebidas, apenas com argumentos em linhas gerais, que me dêem margem de manobra para amar, chorar, gozar, ter dor, gostar ou desgostar. Que seja um livro escrito de braços dados com o lirismo. E que este lirismo seja resiliente para aturar minhas manias, meus dramas e meus medos. 

Obrigado pela minha mulher, meus filhos, minha família, meus amigos, meus sorrisos e minhas lágrimas. Obrigado pela minha vida. 

3 comentários:

  1. Texto perfeito, vida relatada de dentro. É eeu me alio a vc para desejar tudo o que deseja, durante uma vida longa e plenamente vivida. Bj com amor e admiração.

    ResponderExcluir
  2. Lindo texto. A vida é assim...cada ano de vida servindo de aprendizado e de oportunidade para nos melhorarmos . Desejo uma vida longa, feliz, de ótimas experiências e muita sabedoria. Beijo grande e um dia feliz

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir