sábado, 5 de maio de 2018

Recomeçar relacionamentos

Um casal de amigos redefiniu para mim o fim da linha. Ele é engenheiro e ela é arquiteta. Pessoas com trabalhos que se completam e levaram para a vida pessoal essa ideia de complementariedade. 

Casaram-se há 30 anos. Como todo relacionamento, houve dias que amaram profundamente e  minutos em  que se detestaram intensamente. 

O tempo foi passando e a proporção se alterando. Até que chegou o momento em que havia minutos de amor profundo e dias em que detestar era o único sentimento viável na relação. 

Ao chegar a este ponto, foi a hora de procurar outros caminhos. Não sem dor. Reconhecer que chegou a um ponto em que não dá mais pra continuar é muito difícil. 

Começa com uma sensação de incredulidade que o relacionamento corre algum perigo. Depois pinta no horizonte aquela possibilidade. Pronto, está aberta porta do fim. 

Houve a tradicional lavação de roupa suja. Aquilo que Renato Russo descreveu perfeitamente: “falamos o que não devia nunca ser dito por ninguém”. Não houve outra opção. Ele saiu de casa. Fez uma pequena mala, colocou duas mudas de roupa para os primeiros dias de combate  e se dirigiu a um hotel. 

Os dois tiveram duas semana de desintoxicação. O que havia entre eles precisava ser posto em perspectiva. Nada do que fosse decidido no calor do momento poderia ser definitivo. 

Ofereci um ombro amigo. Ele é um cara extrovertido, do tipo que faz muitos amigos. Senti que naquele momento ele precisava “baixar a bola” e conversar com alguém. 

Há uma semana ele me telefonou e disse: “Eu e ela conversamos, resolvemos tentar novamente. Trinta anos não é um lance de uma noite. Vamos recomeçar”. 

Acredito que ele deve ir com tudo. Ele deve ter posto na balança e constatado que o amor é maior do que a mágoa. Na vida, essa hierarquização entre a dor e o prazer deve balizar nossas escolhas entre o seguir e o interromper. 

Expresso meu desejo sincero ao meu amigo engenheiro e à minha amiga arquiteta. Que o recomeço signifique também uma refundação. Signifique fazer mais o que deu certo e tentar fazer diferente o que não estava funcionando. 

Eu, por meu turno, não acredito em mudanças radicais, mas acredito piamente na capacidade de adaptação do ser humano. Seguir num relacionamento é uma questão de escolha. Os cínicos afirmam que escolher é perder. Os otimistas acreditam que escolher é uma tentativa de acertar.  


Que a escolha tenha sido feita por uma esperança infinita que as coisas deem certo. Se amar fosse fácil, questões relacionadas a este sentimento não provocariam dor. 

3 comentários:

  1. Com idas e vindas desta vida, escolher ser mais feliz é importante, nem que seja um pouco mais feliz. Desejo isso ao casal.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Desejo ao casal que os erros cometidos sejam transformados em acertos de forma criativa.

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