quarta-feira, 2 de maio de 2018

Juninho Pernambucano, as relações promíscuas e a TV Globo


Entre idas e vindas, trabalhei por 19 anos no Grupo Globo. Não me lembro de ter visto uma reprimenda ao vivo a um comentarista como fez o Sportv a Juninho Pernambucano. No programa Seleção Sportv, apresentado por André Rizek, Juninho fez uma série de críticas aos setoristas esportivos. O ex-jogador afirmou, entre outras coisas, que as relações eram promíscuas entre atletas e repórteres que cobrem os clubes. Além disso, ele disse que um jornalista que estudou muito e ganha 3 ou 4 mil reais tem preconceito ao entrevistar um jogador que não estudou e ganha 100 mil reais. Juninho falou ainda que a imprensa despreza os atletas por considerá-los apenas pessoas com sorte por ter um talento para jogar bola.

Há algumas semanas, Juninho já havia criado polêmica ao dizer que a torcida do Flamengo era preconceituosa com o lateral Renê porque ele é nordestino. 

O talentoso ex-jogador não aprendeu com o episódio anterior sobre os perigos da generalização. Incorreu no erro grave novamente. Colocou em dúvida a conduta de todos os jornalistas que cobrem clubes. 

Juninho está tentando fazer uma linha de comentarista que coloca o “dedo na ferida”. Alguém tem que explicar para ele que as coisas não funcionam assim no jornalismo. Acusações como essas de Juninho, devem ser feitas com provas e fundamentos. 

Juninho se mostra ressentido. Ressentimento não é recomendável para quem empunha um microfone poderoso como é o do Sportv e o da TV Globo. 

Neste episódio, me chamou a atenção ainda a reação imediata da Direção de Jornalismo do Sportv. Foi muito rápida e me fez pensar que foi uma decisão corporativista. Não houve reação tão ágil quando a torcida do Flamengo foi chamada de preconceituosa pelo comentarista. 

Feitas essas observações, é importante pensar que Juninho não está errado ao falar de relações promíscuas no futebol. O problema foi ter generalizado. As relações promíscuas não são apenas entre setoristas e atletas. O escândalo recente envolvendo propina para compra dos direitos de transmissão de competições internacionais não tem a participação de setoristas e sim, de corporações de mídia, como apontam as delações. (https://veja.abril.com.br/placar/caso-fifa-globo-e-acusada-de-pagar-propina-e-se-defende/)  

Um exemplo de relação promíscua, ou pelo menos pouco ortodoxa, é contratar o principal jogador brasileiro para que ele dê um tratamento diferente a uma empresa jornalística (https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2018/02/por-exclusividade-globo-contratou-neymar-no-ano-da-copa-de-2014.shtml). Então, Juninho acabou dando tiros a esmo e acertou telhados de vidro que ninguém quer estilhaçados. 

Com Juninho, dessa vez, a reação foi bem forte. Me arriscaria a dizer que a continuar assim, apesar do discurso de “opinião livre” feito pelo Sportv, o “Reizinho” se encaminhará para a marca do pênalti. 

Abaixo o link com a bronca da Direção de Jornalismo do Sportv em Juninho Pernambucano. 



Um comentário:

  1. Perfeita a sua análise, Juninho desceu pro play e não sabe brincar... Talvez esse seja um bom exemplo do valor que a faculdade de jornalismo tem. Ele está no fundo do poço e não para de cavar.
    Um ponto não abordado no seu post é a, aparente, falta de honestidade/respeito do veículo com um seu prestador de serviço, não ao dizer que discorda do comentarista publicamente, mas sim ao não combinar com ele antes. A julgar pela reação e da réplica dele ao pito, ele não tinha conhecimento algum do que iria acontecer.
    Não há qualquer manual de gestão de pessoas que ensine a tratar um colaborador que errou desta forma. A nota deveria ter sido dada e ele deveria ter sido preparado para dar uma resposta adequada ao ocorrido. A Globo mantê-lo em seu time, ou ele ficar, e sinal de que alguém não tem caráter.

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