terça-feira, 17 de outubro de 2017

A força do querer ou o querer que fragiliza?







A Força do querer está acabando, com números impressionantes para a realidade de audiência da TV aberta. Glória Perez se redimiu da terrível novela Salve Jorge e trocou viagens transcontinentais por uma referência no começo da trama ao estado do Pará. Transferiu a galera de Parazinho para o Rio e tocou o barco.

Acho que a novela falou muito sobre como o querer demais fragiliza as pessoas. Na verdade a Silvana de Lília Cabral era viciada em jogo, a Bibi de Juliana Paes era viciada no amor bandido de Rubinho e o Zeca de Marco Pigossi era viciado no amor leviano de Ritinha. Quando olham no espelho, a imagem que veem deles está quebrada, sem identidade.

Nesse sentido, os três personagens despertaram pena e irritação do público. Eu fiquei irritado também com o papel da empregada/confidente da Silvana. Muitas vezes a gente age parecido com ela. Por gostar demais ou não querer contrariar vamos deixando que alguém próximo se enrede cada vez mais em encrencas. Essa permissividade, por exemplo, é nociva aos jovens. Passar a mão na cabeça como a Dita faz com a Silvana só piora a situação do personagem de Lília Cabral.

Novelas são poderosos instrumentos de criação de significados. Gilberto Braga em Dancing Day´s talvez seja o exemplo mais bem acabado dessa teoria. Ao mostrar o drama dos jogos, Gloria Perez pode também fazer chegar aos pais que criar filhos acobertando seus erros pode fazer com quem mais saia perdendo são os próprios filhos.

Ao deixar o exotismo de outras paragens de lado, Glória Perez investiu em dramas humanos mais próximos e urgentes. Dentre esses dramas está a transformação de Ivana em Ivan. A qualidade da interpretação de Carol Duarte, caloura em novelas, foi de arrebatar. A personagem foi adotada pelo público. Houve situações que no meu entender foram mal colocadas, como o fato da personagem usar hormônio masculino sem acompanhamento médico. No entanto, nesse país pós-MBL, se faz cada vez mais necessário discutir questões de gênero e diversidade.

Destaque para o personagem Nonato que leva uma vida dupla como motorista do ogro Eurico e como transformista que faz shows noturnos. Junto com o filme Divinas divas, de Leandra Leal, o personagem enche de carinho esses artistas corajosos que enfrentam e enfrentaram uma série de obstáculos para viver do talento que lhes foi conferido. Acabou sendo uma homenagem à Rogéria, que partiu há pouco.

Os códigos da nossa sociedade não são mais os mesmos. Na verdade, a gente tem que se desconstruir continuamente para aceitar o diferente, A realidade é cada vez mais fragmentada. O drama de Ivan/Ivana é mais rotineiro do que a sanha censuradora dos nossos tempos quer acreditar. E a novela como um instrumento de construção da realidade e de ressignificação de conceitos tem o dever de discutir.

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Dia triste no jornalismo 1: Se você não gostar de alguma coisa feita pelo Danilo Gentili, cuidado! Não fale nada no seu Facebook, Twitter ou Blog. Ele pode soltar seus 13 milhões de cachorros virtuais amestrados e esmagar você.

Dia triste no jornalismo 2: Num dia a empresa anuncia em espaço nobre a renovação de patrocínio para grandes eventos esportivos. No outro, sai uma barca de demissões no departamento de esportes.

Enquanto isso, Aécio neves recupera o mandato de senador. Mais um espelho quebrado. Parabéns aos envolvidos.

3 comentários:

  1. Bravo, Creso, querido! Uma ressalva (apesar de eu não ver a novela, rs): é importante que seja mostrada a possibilidade de uso de hormônios sem acompanhamento médico porque isso acontece à beça. Seja por que motivo for, e é super-perigoso, tem gente que morre assim. Pode ser uma denúncia também (não sei se rolou isso na trama. Beijos, parabéns de novo!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Dia triste no jornalismo 3: Não se fala da Somália

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