segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A Reforma






Há 500 anos Martinho Lutero se dirigiu a uma igreja católica na Alemanha e pregou na porta 95 teses que marcavam o início da Reforma Protestante. Um delas criticava a cobrança de indulgências pelos padres católicos. Numa explicação rápida, os religiosos pregavam que para garantir um lugar no céu as pessoas deveriam comprar seu “bilhete” pra lá.

Eu sou batizado na Igreja Presbiteriana de Botafogo. Apesar da distância do cotidiano da igreja, ainda me defino como um presbiteriano. Tenho pessoas queridas que ainda frequentam a igreja. Meu casamento foi ecumênico, celebrado por um padre e por um pastor com quem joguei bola e me conhece desde que eu nasci. Fui batizado, inclusive, pelo avô dele.

Então, gostaria de dizer algumas coisas. Foi na Igreja presbiteriana que aprendi noções  de caridade e de busca por uma justiça social. Quem teve o privilégio de conhecer o reverendo Geraldo Nunes de Azevedo vai se lembrar disso.

Lembro-me até hoje de um sermão em que ele alertava “às vezes damos às pessoas o que achamos que elas querem, quando na verdade deveríamos dar o que elas pedem”.

Presbiteriano, aprendi a frequentar cultos  ecumênicos, entender que não há um só caminho. Crenças não são certas ou erradas. Aprendi o que é tolerância religiosa e liberdade de culto.

Dito isso, não me representam essas pessoas com a visão fundamentalista de censurar exposições, condenar formas de amar e impor limites e castigos ao corpo, principalmente o corpo feminino.

Cresci cantando Paula e Bebeto: “Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer de amor valerá”. Na verdade, preocupa-me a segregação e a falta de diálogo religioso. Aliás, vivemos numa era “pós-diálogo”, ou pior, “anti-diálogo”.

A agenda obscurantista de censurar a arte e o saber vai nos levar à ruína. Os protestos contra Judith Butler, em São Paulo, e a invasão da sala de aula na Uerj para impedir uma aula sobre Revolução Russa estão parecendo o Comando de Caça aos Comunistas. Se rolar uma marcha da família, vou achar que entrei numa cápsula do tempo.

Quem sou eu para contrariar Karl Marx, mas acho que o Brasil de hoje embaralharia até o raciocínio do conterrâneo do Lutero. Marx dizia que a história se repete a primeira vez como tragédia e segunda como farsa. Longe de mim querer ser petulante por ter um ponto de vista diferente de Karl Marx, mas corremos o risco de repetir a história como tragédia novamente.

Se você quer falar em nome de Jesus, pense que ele impediu que os hipócritas apedrejassem a prostituta Maria Madalena e expulsou os vendilhões do templo.

A julgar pelo poderio econômico de alguns que falam em nome dele, Cristo vai ter que dar um pulo aqui de novo e reclamar de apropriação indébita da “trade mark”. Aposto que ele não aplicaria os royalties em templos suntuosos, mas daria comida para quem tem fome e não perderia tempo impedindo exposições e palestras. Ele sofreu na pele esse negócio de intolerância e preconceito.

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