sábado, 14 de outubro de 2017

Pressão social

Pressão social



Ultimamente quando me perguntam se gosto de chopp ou cerveja respondo: eu gosto de Fanta Uva. Nem sempre foi assim, demorei uns 30 anos para assumir essa resposta. 

Não, meu amor pela Fanta Uva não é recente. Acho que veio logo depois de perceber que ela era mais legal que o groselha servido na casa da minha avó paterna. Tinha gás, na verdade era quase uma Coca-Cola do bem. 

Acontece que a adolescência chega já impondo certos modelos de comportamentos. Você tem a imposição social de mudar seu repertório líquido. Elementos etílicos entram em voga. 

Eu só queria continuar na Fanta Uva, mas começaram as piadinhas: "toma bebida de homem", "hum, essa Coca-Cola é Fanta". Cresça nos anos 80, quando diversidade não estava na ordem do dia e sinta a pressão social que aqueles quem não se dava tão bem com álcool sofria. 

Mas tudo bem, se essa é a regra de sobrevivência na selva social, vamos em frente. Acho cerveja amarga, algo que só o costume do paladar me fez engolir bem. Aí veio o coquetel de frutas. Entre na vida adulta dos anos 90, convivendo com os adolescentes dos anos 80 e saberá a pressão social de gostar desse tipo de drink: "ah, frutinha, é". 

Aí você escuta esse relato e diz: "esse cara deve tomar um chopp e apaga". Nada, minha carcaça aguenta. Já fiquei bêbado algumas vezes na vida, mas consumo quantidades industriais de álcool para que isso acontecesse. 


E essas quantidades de álcool vinha acompanhadas de uma terrível realidade no amanhecer do novo dia: a ressaca. Não vim configurado para o dia seguinte às farras etílicas. Uma vez chorei a apresentação de fim de ano da minha filha inteira. Alguns devem ter pensado: "que pai sensível". Eu só estava chorando por causa da dor de cabeça e do embrulho do estômago. 

A Lei Seca veio para salvar minha vida social. Não preciso mais de desculpas. Tipo ser o motorista da rodada sem problemas. Não que tenha ficado abstêmio, mas a pressão social por beber acabou. E agora, amigos até me estimulam a não beber. 

E então, aquela Fanta Uva comprada quase com vergonha voltou ao meu cardápio. Doce com aquele gosto artificial de uva, com mais calorias do que qualquer coisa. 

Quando chego num restaurante pergunto logo: tem Fanta Uva? E não sou olhado como se fosse um ET. Fanta é raiz, pedir light é Nutella. 

Ah, mas engorda. Sim, engordei tomando chopp, caipirinha, comendo a gordura da picanha e do contrafilé. Aí vou colocar a culpa logo na Fanta Uva. 

E com isso fica o pensamento. Quando a gente é mais jovem, no meu caso uns 40 quilos atrás, o peso da opinião alheia é descomunal em tudo. Com o tempo, ele continua, mas você consegue disfarçar melhor a pressão e às vezes até ignora-la. 

O melhor é que vou escutar e ler piadinhas depois desse textp. Amadureça nos anos da pós-verdae, tendo muitos amigos adolescentes nos anos 80, jovens nos anos 90 para aprender que a melhor form de lidar com a pressão é transformá-la em gargalhadas.

Vai uma Fanta Uva?

3 comentários:

  1. Só não concordo plenamente porque prefiro a groselha. Mas essa os restaurantes não tem mesmo!

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  2. Os amigos dos nossos filhos, que gostam de mate e iced tea, devem estar perguntando - "do que eles estão falando?" Rsrs

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  3. Já experimentou Mate Couro? Uma espécie de Mineirinho. Só que Mineiro mesmo. Só tem em MG. E Mineirinho só tem de Niterói "pra lá", não entrava na antiga Guanabara. Era um dos motivos que me faziam curtir pegar o 996...

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