domingo, 29 de outubro de 2017

O irresponsável das palavras





Quando a gente tem filhos começa a contar os dias, a primeira noite totalmente dormida e vários outros marcos que interessam apenas aos pais e a quem cerca o bebê. Apesar de só interessar ao ciclo restrito, a gente divide tudo com todos. Na era digital então, é uma festa, não há segredos ou discrições.

E tem uma instituição chamada mesário. No primeiro ano da criança, todo mês os pais cortam um bolinho, chamam avós, tios e padrinhos para comemorar mais um mês na vida do novo integrante da família. Fotos, snap, mudança de foto no perfil do Facebook, tudo isso faz parte do ritual tecnológico de nossos dias.

Como meus filhos já estão crescidinhos, resolvi fazer um mesário do blog. Sim, nesta segunda-feira, 30 de outubro, o Blog do Creso faz um mês. Diferentemente dos bebês, ele não é a “gracinha da casa”, mas pode tirar o sono do pai.

Nesses 30 dias em que me lancei nessa aventura insana de escrever, já descobri algumas coisas. A primordial, não é fácil ter assunto todo dia. Recorrer a metalinguagem, como estou fazendo hoje, é prática condenável se repetida muitas vezes.

Apesar de você construir sua história a cada dia, é pão que poucos assam transformar em um texto razoável qualquer fato banal do cotidiano. Então, você começa a olhar pessoas na rua para ver se a roupa delas, ou os trejeitos dão uma ideia. Se as nuvens do céu formam uma imagem diferente que sugira um mote. É, eu disse que a atividade era insana. Ah, tem o recurso de apelar para suas histórias. Convenhamos, por mais interessante que seja a sua vida, é difícil que ela tenha dias plenos de casos interessantes para dividir.

Como estou num exercício de virar os olhos para dentro, como se fosse uma ressonância magnética da página. Resolvi então nesse mesário falar um pouco de números. Foram mais de 8500 visualizações nesse primeiro mês. E experimentei a tal da globalização. As estatísticas do site mostram o fluxo de tráfego para o blog.

Tenho amigos na Espanha, nos Estados Unidos e no Canadá. Essas amizades internacionais estão representadas nas estatísticas. Elas me dão o privilégio da leitura e me enchem de alegria.

Mas a revelação da origem dos visitantes guardou surpresas também. Há acessos na Índia, no Paquistão e na Ucrânia. Ou seja, esse obscuro escriba atravessou oceanos e continentes com suas palavras e chegou a lugares que com certeza não visitará fisicamente.

Nesse período, já desnudei angústias, falei mal de uns, falei bem de tantos e até tive vergonha. Paradoxos da vida, as palavras blog e vergonha não deveriam estar na mesma frase. Bem, a revisão dos textos me tira o sono. Sempre entro e descubro algo que deveria estar escrito melhor. Às vezes deveria estar escrito certo e aí me sinto um completo imbecil.Quer saber, além de vergonha, ter um blog dá um medo! Não é apenas o exercício narcisista de alguém que acha que tem algo a dizer. É revelar o que vai pela alma, revela os dias pouco inspirados e se expor.

Se você pensar na força das palavras e do alcance que elas têm, você trava e não consegue nem dar bom dia. Então vou pensar que estou falando na sala de casa, para tirar o peso opressor da responsabilidade dessas palavras transnacionais.

Pensando bem, viver exige da gente muita irresponsabilidade. Boa semana!

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