domingo, 1 de outubro de 2017

Só vejo vilões

Para começar a semana

" A relação entre erro e  esquecimento  deve ser a seguinte:

Não esquecer totalmente o erro para não voltar a repeti-lo, nem se lembrar demais para que ele não impeça os próximos passos"

Evangelho perdido de São Ptolomeu Capitulo 30, versículo  5

Só vejo vilões

Conheço António Tabet há mais de 20 anos. Não sou amigo dele, meu único problema pessoal com ele foi ter perdido uma disputa de pênaltis no campeonato da faculdade de comunicação. Sou fã do Porta dos Fundos desde o primeiro episódio, há 5 anos. Aquele em que ele interpretava um marido que quis fazer cobranças por causa de uma sobremesa e acabou ouvindo verdades desagradáveis. 

Quanto a saída dele do Globo, anunciada no domingo, acho que era um ponto sem volta. Na verdade, o primeiro texto Extra, Extra já era motivo suficiente para que ele deixasse o jornal. Para quem não sabe, Tabet escreveu em sua coluna um texto desancando o jornal Extra por causa da polêmica capa em que dizia que deixaria de chamar o goleiro do Flamengo de Muralha. 

No primeiro texto ele dizia que o Extra não fazia jornalismo e não era um jornal. Estranhei o fato de ter saído no Globo a coluna, mas louvei a capacidade de ouvir uma crítica do jornal. No texto, Tabet não se identificava como vice-presidente de Comunicação do Flamengo, o que para mim foi um pecado, pois isso poderia atenuar o conflito de interesses desenhado. 

A crise parecia estar resolvida, no entanto a ferida foi reaberta com a perda do título da Copa do Brasil pelo Flamengo. O Extra voltou a colocar Muralha na berlinda e por dois dias seguidos o goleiro foi tratado em tom jocoso pelo jornal. Aqui, gostaria de dizer que acho Extra um excelente jornal, criatIvo e com muitos serviços prestados ao Rio de Janeiro e ao jornalismo. No entanto, discordei do jornal na primeira capa sobre o Muralha. Como também discordei do tratamento dispensado ao goleiro no dia seguinte à derrota na Copa do Brasil. 

Talvez o que mais tenha deixado Tabet chateado foi ter parado na primeira página do jornal.  O Extra publicou um tweet dele em que comemorava o fato do Flamengo ter se tornado o clube com maior base digital do país. O próprio Tabet reconheceu que não era a melhor hora para comemorar alguma coisa no Flamengo. O jornal usou a informação para dar o troco em Tabet pelo primeiro texto e publicou: "A liderança que a diretoria comemora". 

O vice de comunicação do Flamengo não deixou barato e proibiu o repórter do Extra de fazer perguntas ao técnico do Flamengo durante uma coletiva na Gávea. Atitude condenável do Flamengo. Tentar calar repórteres não é coisa que se faça. 

A novela teve mais um capítulo neste domingo, quando António Tabet usou sua coluna no Globo para atacar novamente o Extra. Ele relembrou seu  começo como estagiário na editoria de esportes da Radio Globo, além de fazer observações interessantes sobre o que chamou de jornalismo Nutella. Diga-se de passagem, falou com razão sobre aspectos que precisam ser repensados na nossa profissão. Dessa vez, jogou aberto e mostrou que estava escrevendo como vice do Flamengo, coisa que não fez no primeiro texto. Porém ser colunista e escrever como dirigente configura um conflito de interesse. Tabet se arvorou de Ombudsman, cargo que não tem e comentou um assunto interno. Decidiu ir para o conflito. 

O Globo publicou uma nota no pé da coluna dizendo que era a segunda vez que Tabet usava o espaço para atacar o Extra e que por isso resolvera interromper a relação profissional com António Tabet. 

De fora, me parece que o jornal demorou a agir. A atitude de desligar Tabet já deveria ter sido tomada na primeira coluna. Na minha opinião, o conflito de interesse já estava desenhado. E discordo totalmente da decisão que o dirigente teve em proibir o repórter do Extra de fazer perguntas. Para mim censura é indesculpável. 

Também acho que o Extra foi infeliz na piada de parar de chamar o goleiro do Flamengo de Muralha. Também achei que o jornal foi mal na primeira página de quinta-feita, quando praticamente colocou a culpa da perda do título no goleiro. Se foi piada, passou do ponto. Virou bullying. 

Não sabemos se o último episódio foi a coluna deste domingo. Tabet tem o Porta dos Fundos e pode dar alguma resposta ao Globo no canal de humor.  

Como torcedor, lamento que meu clube tenha tomado uma atitude inominável como a censura, atitude que lembra tempos que não quero que voltem. Como leitor, lamento a saída de um colunista que prendia minha atenção com textos sarcásticos e inteligentes. 

Não consigo achar os heróis dessa novela, só vejo os vilões. 

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Sob stress aquilo que desejamos demonstrar ser, pode ficar em segundo plano e nossos sentimentos mais primitivos e repugnantes podem nos assaltar a razão.

    Sobre a postura do Flamengo, lembrei do que a CBF fez com o Escobar.

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