Cresci e não sei responder a essa pergunta. Perguntas podem ser cruéis.
Os questionamentos fazem com que você caminhe e persiga algo, mas motivam a
perda de algumas horas de sono.
Na verdade acho que a pergunta fundamental é no que você está se
transformando. A passagem do tempo traz mais transformações do que
crescimentos. Nesse nosso mundo tão tomado pela necessidade de acúmulos, a
noção de crescimento passa mais por coisas externas do que pelas que vão pela
alma.
Bem, realmente cresci materialmente. Ao pegar fotos antigas é inegável,
fiquei mais alto e meu diâmetro efetivo aumentou, se vocês me entendem. Tenho
uma família que amo, amigos e uma profissão. No entanto a pergunta persiste: no
que estou me transformando? O mantra do Superman é “para o alto e avante”.
Talvez essa ideia de altura contamine nossa noção de transformação.
A sabedoria popular e as lendas vivem a nos alertar sobre os perigos do
crescimento. “Quanto maior a árvore, maior o tombo”, nos ensinam os mais
velhos. Na mitologia, Ícaro voou tão alto, seu sonho cresceu tanto, que a cera
das asas derreteu e o depois do crescimento veio a queda fatal.
Crescimentos pressupõem quedas. Transformações significam processos
contínuos de mudança. Acho que a vida é uma grande caminhada. A cada passo o
cenário se transforma. Nessa estrada há ciclos de crescimento, mas também de
recolhimento. E nessa caminhada que é viver, a gente aprende que para preservar
o laço, é importante entender a imperfeição da corda.
Transformar-se é um processo contínuo, como foi dito acima, e interior.
Crescer me parece ser uma obra finita. E como ensinam as parábolas matemáticas
e os picos e vales das ondas, crescer é descontínuo. As curvas ascendem e
depois descendem.
As transformações levam a gente a perceber que às vezes não dá para
fazer o necessário, mas o possível e que dependendo da necessidade, as coisas
na sua vida se transformam de indesejáveis em úteis.
Nesse momento brigo pra que meu peso decaia, minha barriga diminua e meu
colesterol vá à níveis razoáveis para um bípede. Ou seja, quero me transformar
no “muso fitness” do próximo verão. Faltando menos de dois meses, acho que não
vai dar tempo. Como se vê pelo meu diâmetro abdominal, nem todo
crescimento é saudável. Talvez aí exista a semelhança, nem toda a
transformação é para melhor.
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