quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Nem a Bibi, nem o senador mineiro











O clitóris das hienas-fêmeas malhadas é muito maior do que o pênis do gênero masculino da espécie. Demorei 46 anos para saber dessa informação. No entanto, tenho um filho de 14 anos em casa. Ele tem a mania de ler sobre qualquer coisa e brindou-me com essa curiosidade. Não vamos parar por aqui, as hienas-fêmeas da espécie malhada oprimem os machos. De acordo com reportagem da BBC, o ato sexual exige muita precisão do macho. Esse empoderamento sexual da hiena-fêmea permite que elas escolham o parceiro com quem querem acasalar.

Resolvi dividir essa informação com meus alunos. Achei injusto que eles demorassem tanto quanto eu para descobrir. Encurtei o caminho deles, afinal, professores servem para dar acesso a informações importantes.

As pequenas pérolas surgidas depois que o assunto veio à tona merecem registro. O primeiro disparou: "se você acha que sua vida sexual está uma m., pense na da hiena- macho". Uma menina adorou a informação e recorreu ao Google para ver uma imagem da hiena-fêmea. Ao olhar exclamou: "Vou trocar a foto de capa do meu facebook. Adorei"! Rindo, ela completou: "se soubesse disso há mais tempo, tinha tatuado uma hiena. Acabei de mandar a foto para a minha mãe".

E prosseguimos no tratado social "hiênico". Um dos alunos falou: "ih, então por isso que no filme Rei Leão, as fêmeas são as líderes no grupo das hienas. A Disney não erra". Amigos, a foto que ilustra a pesquisa quando se procura na internet "clitóris da hiena" é de impressionar.

De posse de tal afirmação resolvi incendiar o debate na outra aula. Os olhares de resignação dos rapazes ao olhar a foto pareciam ter certa inveja. E quase enunciamos Freud durante uma piada na aula.

No período em que nos encontramos, momento da ressignificação da sexualidade, do gênero e de praticamente tudo, é um exercício interessante se colocar no lugar do bicho oprimido.

Aliás, essa atitude de pensar no papel do outro é a primeira que a gente deve tomar para deixar de ser opressor.

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E por falar em papel do outro, quero falar de novela novamente. Cobraram-me sobre minha opinião da absolvição da Bibi. Acho que a Personagem de Juliana Paes deveria ser punida. Sei que para o arco dramático da novela, ela tem que se livrar para ficar com o Caio, deixando Jeiza livre para terminar com Zeca.

Da mesma forma que o sensível drama de Ivan/Ivana serve para tentarmos tirar o estigma dos transgêneros, a impunidade de Bibi pode passar uma mensagem ruim.

O que ela fez foi crime. Ela incendiou um restaurante. Ela provocou prejuízo a várias pessoas, não só ao capitalista dono do negócio, Atingiu também aos funcionários que tiravam seu sustento do estabelecimento.

Sem esse papo de "foi por amor". Isso é romântico, mas não pode atenuar o fato dela ter cometido um crime. Ela não se importou em ser sustentado pelo dinheiro ilícito do marido. Claro que a vida ensina que ninguém é só bom ou mal, ela tem devoção pelo filho, gosta dos amigos e é leal. Mas repito, sua absolvição para mim é um erro. Outra coisa, as seguidas agressões que ela faz à rival incitam a violência. Conflitos devem ser mediados, não resolvidos na base da pancadaria e da ameaça. Como escrevo antes do fim da novela, pode ser que o desfecho da trama a leve para a prisão.

"Ah, Creso, deixa disso", dirão aqueles que acham o politicamente correto chato, mas não posso deixar. Bibi deveria ser punida, numa proporção estabelecida no código penal brasileiro. Bibi foi perigosa na novela e isso não pode vir envolto em glamour.

Muito mais grave que a ficcional Bibi escapar, é o candidato derrotado em 2014 continuar senador. E dizem que a salvação do pescoço dele custou R$ 200 milhões ao Temer. Uma ova! O dinheiro usado pelo Temer é meu, seu e nosso.

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Trocando a toada

Rezemos pela Somália. Tantas vezes esquecida, a África sofre com mais essa indiferença. Não bastasse metade da população local viver um regime de insegurança alimentar, um ataque no último sábado deixou mais de 300 mortos. Espero que a comunidade mundial assuma sua porção de responsabilidade para remediar o problema. 

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