O assessor surdo

O assessor surdo (ou mais um caso envolvendo meu nome diferente)

Já fui chamado de muitas coisas, afinal meu nome é Creso. Todas as confusões possíveis já aconteceram. Ao chegar na casa de uma antiga namorada fui anunciado na portaria como "Cresmo ". O programa Casseta e Planeta contribuiu ainda mais para a confusão. O "Seu Creysson" atormentou meu juízo, alguns trocavam propositalmente, mas havia os que erravam de verdade. 

Ligar para pedir remédio na farmácia também é um problema. Tão frequente quanto a pergunta "Qual o seu nome?" é a expressão "como?". Quando é algo em que meu nome não pode vir trocado, soletro devagar com a preocupação de dizer C-r-e-s-o. Evito falar s e o. Pra não confundir e a pessoa escrever Creseo ou Cresio. Essa maneira muitas pessoas usam também.

Bom, com o advento dos corretores de texto, ganhei o nome de Credo. Não bastassem todas as piadas suscitadas por me chamar Creso da Cruz, a tecnologia ainda me fez esse favor. Corrigir meu nome para Credo. Talvez eu devesse ter sido registrado com essa alcunha. Quem sabe eu não teria mais fé?

Ao chegar à Rádio CBN, em 1998, tive que mudar meu nome. Na Rádio Tupi eu era Creso Soares, mas meu novo chefe, Marco Antonio Monteiro, me desaconselhou o uso do nome de batismo. Não foi muito difícil excluir a primeira metade do nome deixando-me com os dois últimos: Soares Junior. 

Tudo bem, tudo resolvido, parecia que aos 27 anos os problemas tinham acabado. Só que isso me causou uma crise de identidade. No microfone eu era o Soares Junior e na redação eu era o Creso. Teve gente na própria rádio que demorou a descobrir que Creso e Soares Junior eram a mesma pessoa. 

Tive que aprender a fazer a assinatura pausadamente, pois o encontro sonoro do S do fim de Soares com o J do começo de Junior não é dos mais naturais. Muitas vezes me senti da “família” de um ou dois times argentinos, quando me chamavam de Soares “Juniors”. 

Eu estava acostumado com todas essas confusões, mas teve uma que se superou. Estávamos numa reunião de pauta eu, Alexandre Caroli e Luciano Garrido. Toca o telefone da sala de reunião e eu atendo no viva-voz. Por mais que a tecnologia se transforme, nada melhora o viva-voz dos aparelhos. Do outro lado, o assessor se identificou e perguntou com quem falava. Bem, o viva-voz é um risco para os que portam nomes pouco convencionais. Respondi "é o Soares Junior", o cidadão entendeu que eu havia falado "Sou Ari Junior " e me rebatizou: "oi Ari". 

Caroli e Garrido começaram a rir enquanto eu anotava a pauta do assessor. Obviamente, os dois não perdoaram a dificuldade auditiva do meu interlocutor e eu, que nunca precisara de apelido, ganhei  um nesse grupo de amigos: Ari.