terça-feira, 31 de outubro de 2017

Sobre bicicletas, árvores e grades








Estava passando pela ciclovia do Humaitá. Para quem não conhece a geografia do local, a ciclovia vai do consulado americano até a altura dos correios na Rua Humaitá. É um trecho com desnível. Ciclistas de fim de semana às vezes podem ter problemas para subir. Mas esse texto não é sobre aventuras ciclísticas. Bem, pode até virar. Vamos ver no final.

Passava eu na ciclovia e reparei na estranha forma de crescer de uma árvore. A raiz obviamente saia do chão, mas o tronco se entrelaçava com a grade que separa a ciclovia da faixa de rolamento dos carros.

Um exemplo de como a natureza se impõe independentemente dos limites que a gente queira colocar nela. A árvore foi crescendo, encontrou a grade, se misturou com ela, ultrapassou e continuou crescendo. Uma das hastes da grade cedeu e a árvore continuou sua transformação, seu desenvolvimento.

Estou arrependido de não ter tirado uma foto para ilustrar esse texto. Confesso que fiquei com preguiça ciclística de ir ao local apenas para tirar uma foto. Em breve eu tiro e mostro, nem que a imagem entre como  p.s. num post futuro.

Na verdade, o crescimento da árvore em meio ao metal que a cerceava me fez pensar: o que é da natureza não se consegue aprisionar. Pode ser uma luta inglória, em que o desvencilha-se é doloroso, mas a transformação prossegue.

E quando chega lá na copa, já madura, a árvore nem se lembra da dor que sentiu quando era raiz se embaralhava com a grade hostil. A árvore cumpriu sua função, cresceu. E a grade? Acabou sendo partida pela força irrefreável do destino da árvore.

Na vida você é grade e é árvore, há coisas que durante certo tempo você pode limitar, mas depois elas seguem seu caminho. A gente tem que perceber em que momento tem que deixar de ser a grade. Quando a gente é árvore, é necessário ter a resiliência para cumprir a sina reservada.

Pensei nisso tudo enquanto pedalava na subida da ciclovia. Estou fora de forma e ficar olhando aquela árvore me deu a desculpa para tomar um fôlego e continuar a pedalada.

No mais, tente não ser grade, pois no fim a árvore cresce. E quando for árvore, continue, porque uma hora a grade cede.

É, o texto acabou não sendo sobre aventuras ciclísticas.

Um comentário:

  1. Adorei o texto. Isso é sobre a sabedoria de continuar sempre e nos faz bem. Basta perceber que a natureza é perfeita e imponente.

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