sábado, 24 de fevereiro de 2018

As lições de um velho jornalista de como corrigir os erros na profissão






The Washington Post era um dos jornais mais importantes do mundo em 1980. A entrada de Ben Bradlee no início da década de 1960 transformara o diário. Na esteira dos casos Papéis do Pentágono e Watergate, o jornal alcançara o Olimpo dos diários americanos. 

A repórter Janet Cooke emplacou uma história impressionante. Um menino de 8 anos injetava heroína em si mesmo desde os 5. O caso ganhou uma repercussão absurda nos EUA.

A repórter ganhou o prêmio Pulitzer por causa da matéria. No entanto, pouco tempo depois se descobriu que Janet Cooke inventara toda a história. 

O editor Bem Bradlee escreveu uma carta à fundação responsável pelo Pulitzer explicando que Janet não poderia aceitar o prêmio. 

Bradlee enfileirara inimigos importantes desde a década de 1960, entre eles o ex-presidente Richard Nixon e o ex-secretário de Estado Henry Kissinger. Aquele erro grave serviu para que seus detratores quisessem destruir sua reputação. 

Ben Bradlee procurou o ombudsman do Post e pediu que fosse feita uma grande reportagem sobre a “barriga”. A matéria sobre o erro no caso Jimmy teve a primeira página e quatro outras dentro da publicação. A reportagem mostrava tudo em 10 mil palavras. O editor preferiu explicar ao público como ocorrera o erro. Transparência total. O caso se tornou um exemplo de como podem ser perigosas reportagens com fontes secretas. 

A maneira como lidou com o erro mostra a coragem de Ben Bradlee. O nome do jornalista americano voltou à tona com o filme The Post, no qual ele é interpretado por Tom Hanks. 

Conversando sobre The Post com meu amigo/irmão Alexandre Caroli, ouvi uma frase que explica um pouco o ofício jornalístico: Ben Bradlee não viveu em vão. 

Num tempo em que vemos gestores fazendo cortes e as grandes redações se tornando cada vez menores, o exemplo do editor americano poderia inspirar um pouco as coisas por aqui. 

Logo que assumiu o Washington Post, Bradlee contratou cerca de 60 repórteres e mapeou onde estavam os bons profissionais para trabalhar no jornal. Ele entendia que os bons repórteres eram a alma do diário e que era importante qualidade e boa remuneração para que eles continuassem a trazer boas histórias e mantivessem a qualidade e a credibilidade do jornal. 

Havia quem questionasse os métodos do editor do Post, no entanto, ele se mostrou intransigente com algo vital para a democracia: a liberdade de imprensa. 

Ao desnudar os erros no caso Jimmy, Bradlee mostrou um profundo respeito pelo público.  Acho que a atitude mostrou acima de tudo um respeito pelo Jornalismo, assim mesmo, com letra maiúscula. Ben Bradlee não foi imparcial, ele defendeu até o fim o que acreditava. 

Amanhã vou falar mais um pouco sobre o jornalista. Quem quiser saber mais sobre o mítico editor do Post pode procurar o filme O homem do jornal: a vida de Ben Bradlee. 

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