sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Os ouvintes e suas opiniões




A avaliação das outras pessoas sobre o seu trabalho é um mistério. Você pode se dedicar, achar que está fazendo o seu melhor, mas a opinião externa viabiliza ou atrapalha a caminhada. 

Apresentar um programa de rádio eleva a exposição, e consequentemente a avaliação, a um grau que fica difícil explicar para quem não é do meio. Um exemplo. As vezes em que substituí Roberto Canazio, no Manhã da Globo, falava com 300 mil ouvintes por minuto na emissora. 

Erros e acertos na condução do programa se amplificavam. Em algumas oportunidades, pessoas que eu nem sabia que acompanhavam a Rádio Globo vinham comentar algo que ouviram, para dar suas impressões positivas ou negativas. 

Antigamente, a interatividade era pelo telefone e pelas cartas. A emissora ainda recebia cartas há 6 meses. O teor das mensagens era diverso. Chegavam pedidos de emprego, ajuda para localizar alguém, busca por prêmios, ou simplesmente, o desejo de receber um “alô” do apresentador preferido durante uma transmissão. 

As redes sociais diminuíram a distância entre público e apresentador. Logo, as opiniões passaram a “voar”. Um bom caminho para você conquistar “haters” é apresentar um programa de rádio. 

Na experiência de 9 meses como titular de um programa, experimentei as delícias e as agruras de entrar na casa das pessoas. É o seguinte: tem que estar com a cabeça boa. Nem “subir no salto” com os elogios, ou se abater com as críticas. 

Existe também uma das missões mais inglórias do Rádio: substituir as pessoas no ar. Rádio cria hábito e alterar essa rotina é bem complicado. Quando você substitui o titular por causa das férias, ainda rola uma paciência do ouvinte. O problema é quando você entra no lugar de alguém que deixou a emissora ou teve o horário trocado. 

Eu já vivi os dois tipos de experiências. Numa das mudanças de programação da Rádio Globo, tive que ir para o microfone substituir temporariamente  um colega que estava trocando de horário. 

Ao sair do programa recebi uma mensagem inbox bem sucinta: “não gosto de você”. Disse à senhora que ela tinha o direito de nutrir por mim qualquer sentimento. Aí ela voltou à carga: “não gosto de você, não precisa tentar ser simpático, na verdade eu te odeio”. Repeti que ela tinha o direito de ter qualquer opinião. Ela me xingou. Eu repliquei e disse que ela só não tinha o direito de ser mal educada e a bloqueei. 

Em outra oportunidade, recebi uma mensagem mais serena. Uma senhora me disse que estava gostando do programa que eu apresentava, mas uma coisa a incomodava: eu não estava deixando os entrevistados acabarem as respostas. Eu falava em cima deles. Ela me deu dois exemplos com nomes e momentos em que cometi o erro.  Abri o arquivo de áudio das entrevistas, constatei o acerto das críticas e me esforcei para corrigir essa falha. 

A vida é assim. A crítica é inevitável. No entanto, há algumas que são feitas carinhosamente com o intuito de ajudar. Outras querem apenas destruir e fazer mal. Não há comportamentos definitivos. A pessoa que fez uma crítica destrutiva a você pode ser a que avalia e ajuda outro apresentador. Tudo depende da empatia. 

Na verdade, é uma boa reflexão para nós mesmos. Quando damos uma opinião, queremos melhorar ou destruir a pessoa? Queremos que processos, relacionamentos e situações melhorem? Ou queremos Praticar o tóxico erro de falar mal de forma inconsequente?

Neste mundo em que a opinião é artigo em abundância, talvez seja a hora de pensar qual o efeito da sua palavra terá sobre determinada pessoa ou episódio. 

Somos uma versão no meio do caminho entre o que achamos de nós e a forma como os outros nos veem. Nem super-heróis, nem vilões. Somos aquelas pessoas que tentam acertar, mas que pela imperfeição da vida erramos. Um empate de erros e acertos já pode ser considerado uma grande vitória.

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