sábado, 17 de fevereiro de 2018

O atestado de óbito do governo Pezão





O nome jurídico é intervenção federal, mas na prática se chama atestado de óbito do governo Pezão. A administração Temer, que não anda bem das pernas, vai fazer uma tentativa de consertar o caos criado pela quadrilha do Cabral no estado. Uma das consequências do colapso do Rio é que os bandidos resolveram afrontar uma polícia combalida, sem recursos, desequipada e mal treinada. 

Apesar de se dizer totalmente favorável à medida do Planalto, O Governador Luiz Fernando Pezão sabe que seu governo está ferido de morte. Temer assinou o certificado de incompetência do aliado.  Nos bastidores, comenta-se que Pezão não queria essa solução. Mas ele não está em posição política para rejeitar a decisão. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia ficou irritado por ter sido surpreendido por medida tão grave em seu estado. As mãos amarradas de Pezão e a surpresa de Maia mostram como o Rio anda sem “caciques” com prestígio político. 

Na prática, o governador do Rio foi substituído no assunto mais importante de sua gestão. A administração estadual perdeu totalmente a capacidade de combater o crime. O presidente afirmou que os bandidos quase tomaram conta do Rio de Janeiro. 

Que a decisão de transferir para um general a responsabilidade pela segurança no Rio não enseje ideias ou saudades de um tempo em que isso foi rotineiro. 

As UPPs deram a impressão que o Rio havia se libertado do “estado paralelo”, no entanto, a falência do estado oficial, e consequentemente do modelo, levou a esta situação. 

Roberto Sá foi afastado da secretaria de segurança e o general Walter Souza Braga Netto comandará as polícias civil, militar e o corpo de bombeiros. 

Haverá toque de recolher? Haverá zonas de exclusão? Haverá revistas aleatórias? O que irá acontecer ainda precisa ser divulgado. O ministro da Defesa se apressa em dizer que a democracia não corre risco. Tomara...

A diminuição da violência passa por inclusão social, educação e cidadania. A intervenção federal não pode descambar para um estado policialesco. O medo nos leva a lugares que não gostaríamos de estar. 

Tanques devem estar nos quartéis. De lá só devem sair em ações extremas e pontuais. A quadrilha de Cabral e a inoperância de Pezão fizeram com que o Rio tivesse o triste “privilégio” de sofrer a primeira intervenção federal em um estado desde que a Constituição de 1988 foi promulgada. 

A ação poderá aumentar a sensação de segurança, o que não é pouca coisa, mas com o passar do tempo, se as causas da violência não forem atacadas, a intervenção federal se transformará em mais uma operação “enxuga gelo” como tantas outras que o estado testemunhou. 

O general interventor afirmou que a situação não está tão ruim no Rio e que existe “muita mídia”. Essa afirmação me intrigou. Se o comando da operação afirma que o quadro não é tão grave, por qual motivo foi decretada uma ação tão radical?

Talvez na época que o Alemão foi ocupado, a situação estivesse pior do que agora, no entanto, por estarem nas cordas, Pezão, administrador de um estado economicamente falido, e Michel Temer, chefe de um governo moralmente falido, foram impelidos a dar alguma satisfação ao distinto público. 

Como segurança pública é um tema caro à sociedade, um sucesso rápido da intervenção pode até valorizar o título de eleitor de Michel Temer. É uma possibilidade remota, mas com certeza não está fora dos cálculos políticos do presidente da República. 

À população, restar esperar que a intervenção federal dure apenas o minimamente necessário. 

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