domingo, 11 de fevereiro de 2018

O carnaval em Copacabana é uma roubada?




A superlotação do bloco da favorita em Copacabana despertou alguns debates acalorados nas redes sociais. Moradores de Copacabana ficaram sitiados. Teve gente que disse se tratar de "mimimi" e preconceito, pois a pobreza veio aos cartões postais da cidade, deixando chocada a “elite branca”. 

A verdade é que a foto da praia foi espantosa. A imagem que ilustra este post foi registrada pela minha mulher em frente ao Rio Sul e servia como “aperitivo” para o que havia depois do Túnel Novo. Parecia uma movimentação de Réveillon, com o agravante de não ter ocorrido um planejamento de transporte, ou interdições nas ruas para evitar o caos. 

No Réveillon, a massa se concentra em Copacabana. No carnaval os engarrafamentos e aglomerações se espalham. Chega-se um dilema. O bairro é de toda cidade, mas o morador tem o direito de circular livremente. 

Talvez seja a hora de olhar como Salvador e Recife resolvem seus grandes carnavais de rua. Criando circuitos de blocos, por exemplo. Mas esses circuitos precisam ser centrais. Confinar no Parque Olímpico, como queria o prefeito, parece uma tentativa de isolar a festa. Além do que, a massa que foi a Copacabana concentrada no Parque Olímpico iria acabar em tragédia. 

O fato é que não dá para se repetir o que aconteceu em Copacabana. Não pode acontecer em lugar nenhum. Talvez os circuitos de blocos pudessem ser em locais com uma concentração menor de residências. A prefeitura deveria ter estudos sobre isso. Aterro, Boulevard Olímpico e Centro da Cidade, por exemplo. 

O carnaval é essencialmente espontâneo. No entanto vive-se numa metrópole cheia de mazelas. As pessoas envolvidas com blocos, empresários, moradores devem discutir e organizar a festa. 

A prefeitura, apesar de ser ocupada por uma pessoa que não gosta de carnaval, tem que moderar os debates e viabilizar as respostas encontradas.  Não organizar o carnaval é pior para os foliões e para quem não gosta da festa. 

Há um filme excelente chamado Trumbo. A obra é sobre Dalton Trumbo, roteirista em Hollywood nas décadas de 40, 50 e 60. Ele escreveu entre outros “A princesa e o Plebeu” e “Arenas sangrentas”, filmes ganhadores do Oscar de melhor roteiro. No entanto, por causa do Macartismo, o escritor entrou na lista de profissionais banidos do cinema. Por ser comunista, Trumbo ficou preso por um ano. Ele teve que escrever os filmes citados com nomes falsos. Sua resistência só foi recompensada quando Kirk Douglas e Otto Preminger decidiram dar créditos a ele em filmes que estavam lançando. 

O leitor deste texto deve estar perguntando o que a narrativa de um filme sobre os Estados Unidos das décadas de 40 e 50 tem a ver com o caos do carnaval em Copacabana. Vou matar a curiosidade. 

Quando já estava livre e podendo trabalhar, Trumbo recebeu um prêmio especial por sua obra. No discurso, ele diz em linhas gerais que quando olhamos para trás, os tempos de trevas não distinguem heróis ou vilões, todos são vítimas. 

Estamos vivendo um tempo de trevas. As discussões são polarizadas, não ouvimos o outro. Queremos conversar em câmaras de eco para escutar apenas a própria voz, no máximo, ouvimos quem tem opinião igual. Todos serão vitimas a partir do momento que alguém determinar que festas populares podem ou não acontecer, que roupas devemos usar e de que filmes e livros podemos gostar. Neste tempo que se aproxima, as transgressões de costumes ou de opiniões serão punidas. Neste momento, só haverá vítimas,moradores de Copacabana e foliões na praia.

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