segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Luciano Huck, o candidato que o país assiste, mas o TSE não consegue ver


Luciano Huck vai a uma comunidade de Pernambuco. Ele conversa com todos os moradores. Entrevista a empreendedora social que lhe deu a ideia de visitar o local. O nome do lugarejo é Caldeirão. Coincidentemente, nome da atração que comanda aos sábados. O apresentador ouve as reivindicações e a produção do programa viabiliza a construção de um poço artesiano que vai resolver a principal queixa dos moradores: a falta de água. 

Um homem que simboliza o fim da seca no Nordeste. Se isso não é a construção de uma candidatura à Presidência, não consigo entender o que poderia ser assim classificado. 

O maior adversário de Lula parece ser a batalha judicial que deverá encarar para continuar na corrida ao Planalto. Huck está em campanha. Mas ele tem que disfarçar, campanha antes da hora é crime eleitoral. Sua profissão permite que corra sozinho. Fora Lula e Bolsonaro, o apresentador da TV Globo é um dos nomes mais citados no xadrez eleitoral. Tem o benefício de poder transformar seu programa de grande audiência em todo Brasil numa plataforma de lançamento.

Não é necessário ser muito inteligente para imaginar o efeito da propaganda numa campanha pelo fato de ter conseguido levar água para o Nordeste. Já consigo imaginar até o mote: “com um pouco de boa vontade e união de empresários, conseguimos levar água a Caldeirão, imagine o que podemos fazer se tivermos a força de um país inteiro para realizar os projetos”. Marketing é muita coisa na corrida eleitoral, mas não é tudo.

Luciano Huck é uma folha em branco. Não disputou cargo público, é um empresário de sucesso.  Tem o inconveniente de ter feito campanha para Aécio Neves em 2014, mas sempre poderá dizer que foi enganado.  No entanto, para ser candidato e vencer, Luciano Huck não poderá contar apenas com essa pré-campanha disfarçada. O TSE não pode fazer nada, pois sempre haverá o argumento do apresentador e da emissora que ele está apresentando um programa que tem este quadro “de ajuda social” há algum tempo.

Os mais apressados vão lembrar que Fernando Collor se tornou conhecido em propagandas de TV e que isso o levou à vitória.
Raciocínio superficial. Os três programas eleitorais na TV que fizeram o então candidato do PRN conhecido no país foram apenas o lançamento. Collor ganhou aquela eleição porque Ulisses Guimarães, do PMDB, e Aureliano Chaves, do PFL, foram traídos por suas máquinas partidárias.

Luciano quer construir a “tal candidatura de centro”, mas para isso, terá que compor com a trinca Sarney-Renan-Jader. Hoje ele tem dois políticos muito mais tarimbados que ele disputando o mesmo lugar: Geraldo Alckmin e Rodrigo Maia. 

O apresentador tem uma vantagem sobre os outros postulantes. É mais carismático. Representaria uma alternativa à política tradicional. No entanto, tem que trazer o empresariado paulista que está com Alckmin e se tornar próximo do baixo clero da Câmara, como é Rodrigo Maia. 

Insisto na tecla, sem máquina partidária não se vence eleição. Os deputados estaduais ajudam a eleger deputados federais, que ajudam a eleger candidatos majoritários. 

Ao contrário do que uma leitura superficial pode dar a impressão, ser o mais conhecido dos candidatos não garante nada a Luciano Huck. 

A conta pragmática que os políticos deste “tal centro” deveriam fazer é qual o percentual deles somados. Com tanta gente querendo ocupar este lugar, é capaz de nenhum deles chegar ao segundo turno. A eleição para prefeito do Rio mostrou isso. A soma dos votos de Carlos Roberto Osório, Pedro Paulo e Índio da Costa era maior do que os percentuais conseguidos por Marcelo Crivella e Marcelo Freixo, candidatos que disputaram o segundo turno no município. Se os três se unissem a “candidatura de centro” teria chegado ao segundo turno.

Além de convencer a audiência, Luciano Huck tem que convencer Alckmin e Maia que é um candidato melhor. Para o presidente da Câmara o tempo é favorável. Com a força que adquiriu na última legislação, deve conseguir renovar seu mandato. Já Alckmin, se não for candidato agora, pode perder o bonde história. Teria que abdicar do seu projeto pessoal para que essa “proposta de centro” tenha viabilidade eleitoral. 

Claro, a eleição é uma com Lula e outra sem o ex-presidente. Se vencer as batalhas nos tribunais, é favorito a vencer a batalha das urnas. Se for preso ou asilado, a eleição vira um grande varejão, com vários candidatos disputando o espólio do ex-presidente. 

Esse varejão é tudo que Jair Bolsonaro precisa para chegar ao segundo turno. No momento ele deve querer duas coisas: que Lula não dispute e que o “centro” vá fragmentado à eleição.  Se isso acontecer, os 18 por cento que ele costuma ter nas pesquisas podem ser o suficiente para chegar à segunda da fase do pleito. 

Aí, começa outra eleição. Se Lula conseguir ser candidato e o centro se unir, dificilmente Bolsonaro chega ao segundo turno. A impressão que eu tenho é que Luciano Huck só vai anunciar quando conseguir compor com PSDB, DEM e satélites. Se fosse apostar, diria que ele será candidato. É só uma aposta.

Até lá, Huck leva água a um lugarejo distante dos grandes centros, reforma uma escola. Refaz o piso de uma quadra pública. Afinal, seu programa sempre teve quadros deste tipo.

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