quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

The Post X Spotlight





Vasculhando as redes sociais, vi pessoas fazendo comparações entre Spotlight e The Post. Usando um termo que aprendi com a repórter Carina Bacelar, vou “depositar minha treta” na questão. 

Fui ao cinema com muita expectativa por The Post. Sai de lá emocionado. O filme faz uma ode ao jornalismo, esse ofício que se transforma todo dia e todo mundo acha que pode exercer pelo fato de ter um smartphone. The Post mostra jornalistas correndo atrás de uma boa história e defendendo o inviolável direito da livre informação. 

Katharine Graham, interpretada por Meryl Streep, é uma mulher que passa o filme precisando provar a todos, mas fundamentalmente a ela mesma, que é capaz de gerir um jornal e ganhar espaço num universo tomado por homens.

Algumas cenas são esquemáticas, servem à narrativa de “estranha no ninho” da dona do jornal. Como num encontro com o editor-chefe do jornal, seu subordinado, em que ela pede desculpa por ter deixado o assunto mais importante para depois; “Ah, pulei o lead”. Piada interna de jornalistas. Existem também as cenas nas quais Katharine entra em reuniões com executivos e é quase ignorada. Diretores mais antigos tentam manipulá-la. No entanto, ela vira o jogo e é decisiva para o desenlace do filme. 

Gosto muito do Tom Hanks, mas achei o  Ben Bradlee dele quase caricato. Entendi que foi uma composição, mas me incomodou, achei superficial. O estereótipo do velho jornalista que conhece os atalhos do poder serviu ao filme, mas não estará na galeria dos personagens inesquecíveis do intérprete de Forrest Gump.

Timidamente, confesso preferir Spotlight. O ganhador do Oscar em 2016 é mais moldado a quem conhece a rotina de uma redação. O filme sobre a investigação dos escândalos de pedofilia na igreja mostra os repórteres sendo repórteres: convencendo fontes, apurando, escrevendo e levando não. 

Quem escolheu fazer jornalismo, um momento, vou reformular: quem foi escolhido pelo jornalismo sonha em se meter numa “encrenca” como as de Spotlight e The Post . Correr atrás daquela história que pode mudar a realidade de muitas pessoas. Cessar injustiças e colocar bandidos atrás das grades. O filme de Tom MacCarthy mostra o trabalho dos repórteres, o de Spielberg é mais enfático nas intrincadas negociações do “andar de cima” para que a matéria seja publicada. 

Fazendo uma linha do tempo, talvez Spotlight só tenha sido possível pela vitória que o jornalismo teve em The Post. Katharine Graham comprou a briga fundamental, num momento que os EUA afundavam numa onda conservadora, com um governante trapaceiro que se  arvorava como o dono da dignidade. Ela “amadrinhou” duas grandes ocasiões da reafirmação do jornalismo. Os Papéis do Pentágono e Watergate.    

Spielberg faz um cinema mais monumental e direto. A cena em que a redação do post sabe da decisão da Suprema Corte americana deixa explícita esta proposta. A atriz praticamente se dirige ao público, não só aos colegas de jornal. Além disso, Spielberg proporciona uma fala ao personagem de Meryl Streep que serve como mantra para o jornalismo. “Não somos perfeitos o tempo todo, mas nosso trabalho é insistir e continuar”.

The Post e Spotlight são duas declarações de amor ao jornalismo e à liberdade de expressão. Lembra-nos que a imprensa deve atender aos governados e não aos governantes. Reafirmam que não há perguntas inconvenientes na busca das informações. Inconveniente é acobertar, fazer acordos espúrios e sucumbir a um jogo de interesses. 

Sempre é mais fácil “deixar como está, para ver como é que fica”. Amigos, o jornalismo não é fácil. 


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